Sunshine – Um Dia de Sol (Sunshine – 1973)
Kate Hayden (Cristina Raines) é uma jovem mãe que descobre que tem um câncer terminal em sua perna e deve removê-lo ou vai falecer. Ela decide que não pode viver sem a sua perna e, com alguma resistência do namorado, Sam (Cliff DeYoung), um músico desempregado, ela se recusa a fazer a cirurgia. A mãe deixa palavras de sabedoria para a sua jovem filha em um gravador cassete, assim a pequena não vai esquecê-la.
Eu demorei muito tempo para escrever sobre esta pérola esquecida nas prateleiras do tempo, procurei por uma cópia por anos.
A minha memória me garante que vi na televisão ainda na infância, provavelmente por indicação da minha mãe, algumas imagens eu nunca esqueci, lembro que o desfecho era tristíssimo, só de escutar a música no Youtube, por alguns segundos, a mente se conectava com o ambiente, a TV pequena, o sabor dos biscoitos que não existem mais, o clima de uma existência sem celulares, sem ruído social, apenas o meu rosto colado na tela, absorvendo plenamente aquela experiência sensorial.
Garimpando, após ter contato com um VHSrip praticamente inassistível, consegui finalmente uma versão com qualidade de Blu-ray na internet, não pensei duas vezes, gravei na mídia e repeti o ritual.
Ele chegou a ser exibido em sala de cinema no Brasil, ao que tudo indica, costumava passar na televisão na véspera do Natal, outros relatos defendem que era exibido na “Sessão da Tarde” global, em suma, foi um tremendo sucesso, em sua transmissão original na CBS ele conquistou a maior bilheteria de um telefilme até aquele momento, deu origem à uma série de poucos episódios e uma sequência, “Sunshine Christmas”, que é encontrada com mais facilidade no Youtube e, apesar de contar com a clássica balada “Crazy”, de Willie Nelson, na abertura, infelizmente entrega um dramalhão bastante inferior.
O filme é dirigido por Joseph Sargent (do excelente policial “O Sequestro do Metrô”), com o roteiro de Carol Sobieski (que anos depois faria “Tomates Verdes Fritos”) tocando em questões comportamentais controversas que enriquecem o drama, baseado na vida real de Jacquelyn M. “Lyn” Helton, que, em seus anos finais, foi manchete em jornais e revistas por sua obstinação e lucidez.
Após o sucesso do lacrimoso “Love Story” (1970), muitos projetos no cinema e na TV apostaram na mão pesada para extrair lágrimas do público, “Sunshine”, com potencial para ser emocionalmente destruidora, consegue ser uma rara exceção, a história é tratada com leveza, honestidade e elegância, utilizando narrações em off da belíssima Cristina, em sua estreia, extraídas diretamente dos registros em áudio de Jacquelyn.
A ideia de iniciar com a cerimônia de cremação da jovem dá o tom, há tristeza, mas o som do banjo celebra a vida de alguém que tocou o coração de muitos, a finitude é uma certeza, o que importa é como desenhamos nosso caminho até lá.
O roteiro toca em pontos importantes na estrutura resiliente do casal, o amor do namorado que, ao descobrir que ela estava grávida de seu ex-marido, não pensou duas vezes e já se apaixonou pela criança em seu ventre, e, no dia do nascimento, surpreendeu ela ao avisar que registrou seu nome como o pai da pequena Jill. A reação posterior de Sam ao confrontar o ex-marido dela apenas engrandece a admiração inicial. O público já está imerso na trama antes mesmo dos primeiros 25 minutos, chorando de véspera.
Ao contrário de seus similares, “Sunshine” ganha pontos no desenvolvimento dos personagens, mérito da sensibilidade de Sobieski, o filme não estabelece figuras quase angelicais, santificadas, Kate demonstra fragilidade, erra, age de forma intempestiva, um retrato tridimensional de um ser humano que, muito jovem, encarou a finitude. Já Sam, naturalmente despreparado para o obstáculo inesperado, reage com compreensível irritação, ele sabe o que está por vir, mas não quer aceitar.
A direção objetiva de Sargent, madura, quase crua, sem desvios sentimentais pueris, reforça esta abordagem, culminando no desfecho realista, intensamente emotivo, evidenciando que a redenção está no legado daquele espírito livre que viveu e faleceu de acordo com seus próprios termos.
Uma linda história que não pode ficar esquecida nas prateleiras do tempo.
Música-tema, “Sunshine on My Shoulders”, composta e interpretada por John Denver:
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Impressionante como vc descobre essas preciosidades e nos remete pra um tempo pra lá de bom.... Fantástico...Obrigada!
Octávio você descobre coisas maravilhosas. Não me lembro de ter visto este filme, mas vou tentar descobrir. E agora quero fazer-lhe uma pergunta, já ouviu falar, ou viu, o filme “1900”?
Obrigada por todas estas preciosidades que partilha connosco. Abraço ?
Lembro bem desse filme, emocionante. Eu tbem era criança, assisti sempre que possível. E essa música!!
Esse filme marcou minha infância e de toda uma geração, também me remete a muitas lembranças quando assistia grandes filmes quando a Sessão era verdadeiramente da Tarde nos anos 70,80 e 90.
Esse com certeza fez muita gente chorar diante da tv com seu triste enredo e ao som de sua bela trilha sonora.
Lembro que cheguei a gravar partes do filme em uma fita cassete quando o video cassete ainda era um sonho muito distante e quase não existia aparelhos no Brasil.
Tenho o Lp com a trilha sonora na minha coleção.
Infelizmente não sei porque nunca chegou a ser lançado por aqui.
Eu só lembro me da cena do Sam cantando para a menina, sabia que a mãe estava morrendo mas, agpra lendo a sua matéria, me faz querer aprender mais a música e rever o filme. Grata pela sua contribuição Otávio.
Você me representou muito ao falar sobre esse filme, assisti muitas vezes na sessão da tarde...amooooo!! Lindo... emocionante...💖💖
Cê tá louco. Só de começar a ler a sinopse já comecei a chorar. Assisti esse filme também na minha infância, foi um dos dramas que mais marcaram a minha vida. Não sei nem se dou conta de assistir de novo. É um baita filme!
Assisti, esse filme. Realmente, é muito bom!
Assisti esse filme na época que passou na televisão, nunca esqueci a música.
Eu também amo este filme, chorava em todas as reprises que assistia. Era menina, minha mãe vivia doente e isso me deixava ainda mais sensível ao assistir. Mas era um dia mais filmes favoritos. Até hoje tenho muita vontade de assistir novamente. Ouvir a música me trouxe mais saudades. Obrigada pela sensibilidade em falar de filmes tão maravilhosos como este, feito em uma época com tão pouca tecnologia, mas cheio de carisma e tudoo mais que vc falou.