Críticas

“Os Abutres Têm Fome”, de Don Siegel, com CLINT EASTWOOD

Os Abutres Têm Fome (Two Mules for Sister Sara – 1970)

Os americanos criaram o gênero faroeste, com o bem e o mal sendo retratados de forma clara (sem tons de cinza), com cowboys de vestes limpas (como se saídas de um tintureiro) e coloridas.

Os italianos iniciaram copiando o estilo dos americanos, mas pouco tempo depois começaram a estabelecer um novo padrão do que era o Velho Oeste, com um cenário decadente e onde não se podia distinguir o bem do mal, com cowboys sujos e de vestes maltratadas pelo desgaste natural, dentes podres, barbas por fazer e, claro, a presença fundamental de Ennio Morricone.

A estética do chamado “Western Spaghetti” então acabou sendo copiada pelos americanos, em obras como “Os Abutres têm Fome”. Outro aspecto interessante do filme é que ele utiliza o humor como tema central, algo que remete aos filmes da série italiana “Trinity”. Infelizmente o título em português comete o deslize de ignorar a brincadeira que existe no original: “Duas Mulas para a Irmã Sara”. A segunda mula é o personagem vivido por Clint Eastwood, aceitando brincar em cima de sua própria persona estabelecida nos clássicos de Sergio Leone.

Vale a pena salientar que Ennio Morricone conduz mais uma trilha sonora inspirada e coerente com o tom bem humorado do projeto, utilizando em sua melodia trechos de um coral entoando em estilo gregoriano frases como: “livrai-nos do pecado e da tentação”.

A química entre o pistoleiro vivido por Eastwood e a misteriosa freira vivida por Shirley MacLaine, garante os melhores momentos da obra. O diretor Don Siegel (que depois iria comandar o último filme de John Wayne: “O Último Pistoleiro”) consegue equilibrar as situações cômicas com cenas de ação de ótimo ritmo, fazendo com que até mesmo nos intervalos, a atenção do público seja mantida.

Na época de sua estreia ele foi mal recebido, pois as pessoas queriam o “Homem sem Nome” (ainda hoje alguns incorrem no erro de compará-lo com filmes no gênero de outras pretensões), não uma divertida brincadeira com o gênero. Visto hoje, nota-se que tanto o tema quanto a execução envelheceram muito bem.

A tensão romântica entre os dois personagens encontra seu ápice na esperta revelação final, que, obviamente, não citarei no texto, em respeito aos que ainda não viram esta pérola.

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Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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