Topper e o Casal do Outro Mundo (Topper – 1937)
Após um acidente de carro, George (Cary Grant) e Marion Kerby (Constance Bennett), um alegre e apaixonado casal que está no limbo como fantasmas, tomam conhecimento que para irem ao céu deveriam fazer uma boa ação. Decidem de qualquer maneira ajudar o sisudo banqueiro Cosmo Topper (Roland Young).
Finalmente revi esta pérola da produtora Hal Roach Studios hoje em VHS, agora em sua versão colorizada (foi o primeiro filme a passar por este processo em 1985), elogiada à época pelo próprio Cary Grant, e a obra cresceu ainda mais. Ela foi extremamente popular e teve duas sequências competentes, “Marido Mal Assombrado” (1938) e “A Volta do Fantasma” (1941), mas o roteiro delas não envelheceu tão bem. É incrível como este conceito tão simples, com utilização de efeitos práticos e trucagens visuais ainda eficientes (mais de 80 anos depois), amparado no carisma poderoso do trio Grant-Bennett-Young, segue encantando pessoas de todas as idades.
O produtor Hal Roach, após firmar seu nome com curtas cômicos, decidiu arriscar o terreno dos longas-metragens. O tema sobrenatural, adaptado do livro homônimo de Thorne Smith, preocupou inicialmente Cary Grant, mas o diretor Norman Z. McLeod garantiu que seria apenas uma muleta para a construção de situações hilárias, algumas driblando com elegância a censura do Código Hays, que já perturbava a indústria desde 1934. Já a bela Constance Bennett, impressionada com a qualidade do material, aceitou participar por um cachê muito abaixo do que costumava pedir. E quem se deu bem mesmo foi o colega Roland Young, que recebeu uma indicação ao Oscar de Coadjuvante.
O aspecto mais interessante na mensagem do filme é a mudança comportamental da esposa do banqueiro, Clara (Billie Burke), que passa a entender a importância de se viver a vida plenamente, sem se preocupar tanto com as pressões sociais. Ao ver seu marido nas manchetes dos jornais como um desordeiro infiel, a sua primeira reação é de intenso constrangimento (o que a alta sociedade vai pensar?), mas ela se surpreende ao receber em sua casa, pela primeira vez, a visita espontânea daquelas grã-finas que ela tentava tanto impressionar, todas exalando admiração pelos atos de seu marido, que passa até a ser paquerado no ambiente de trabalho. Aquele homem comportado se tornou, da noite para o dia, alguém interessante, imprevisível.
“Topper e o Casal do Outro Mundo” é pouco lembrado hoje em dia, merece ser redescoberto.
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