Críticas

Tesouros da Sétima Arte – “A Torre dos Sete Corcundas”, de Edgar Neville

A Torre dos Sete Corcundas (La Torre de los Siete Jorobados – 1944)

Baseado no romance gótico de Emilio Carrere, conta a história de um antigo complexo subterrâneo usado pelos judeus na época da Inquisição como esconderijo, que agora é ocupado por uma gangue de corcundas. Em meio a elementos de surrealismo, surge o fantasma de um arqueólogo que foi eliminado por ter descoberto o lugar. Ele vem em busca da ajuda de um jovem para proteger sua sobrinha, que também tem sua vida ameaçada pelo mesmo grupo.

O diretor Edgar Neville, medalhão do cinema espanhol da década de 40, infelizmente é desconhecido pelo público brasileiro. Ele foi amigo de Charles Chaplin (que o escalou como guarda em “Luzes da Cidade” e indicou seu nome como roteirista aos executivos da MGM), reconhecido à época por produções cômicas populares que criticavam a alta sociedade de forma elegante, quase sempre utilizando elementos fantasiosos e/ou absurdos nas tramas, já que ele era um apaixonado pelo cinema de gênero.

Edgar Neville e Chaplin, durante as filmagens de “Luzes da Cidade”.

Ele abriu a porta de Hollywood para muitos colegas, como Luis Buñuel. “A Torre dos Sete Corcundas”, o meu favorito em sua carreira (seguido de perto por “El Crimen de la Calle de Bordadores”, de 1946), é um dos melhores filmes fantásticos já feitos no país, um terrir espirituoso com influência estética clara do expressionismo alemão, principalmente “O Gabinete do Dr. Caligari”, na fotografia de Henri Barreyre e Andrés Pérez Cubero.

A trama é ambientada em uma versão fantasiosa de Madri, em que tudo é possível e o inexplicável é rotineiro. Quando o fantasmagórico Robinsón De Mantua (Félix De Pomés aparece para o jovem supersticioso (perceba que é o leitmotiv, já evidenciado na sequência musical que inicia a obra) Basilio (Antonio Casal) na sala de jogos, ele direciona a sorte do rapaz, ganhando rapidamente sua confiança, propondo então uma troca justa, uma missão que o levará aos subterrâneos místicos da cidade, arquiteturalmente semelhantes às litografias do holandês Maurits Cornelis Escher.

É quando o filme abandona a estrutura convencional com clichês compreensíveis e entrega momentos pioneiros no horror espanhol, que só viria a se firmar vinte anos depois. Uma joia rara que precisa urgentemente ser resgatada.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

Recent Posts

Crítica de “Jurado Nº 2”, de Clint Eastwood

Jurado Nº 2 (Juror #2 - 2024) Pai (Nicholas Hoult) de família serve como jurado…

7 horas ago

ÓTIMOS filmes que ACABAM de entrar na NETFLIX

Eu facilitei o seu garimpo cultural, selecionando os melhores filmes dentre aqueles títulos que entraram…

10 horas ago

PÉROLAS que ACABAM de entrar na AMAZON PRIME

Eu facilitei o seu garimpo cultural, selecionando os melhores filmes dentre aqueles títulos que entraram…

10 horas ago

ÓTIMOS filmes que ACABAM de entrar na AMAZON PRIME

Eu facilitei o seu garimpo cultural, selecionando os melhores filmes dentre aqueles títulos que entraram…

3 dias ago

PÉROLAS que ACABAM de entrar na NETFLIX

Eu facilitei o seu garimpo cultural, selecionando os melhores filmes dentre aqueles títulos que entraram…

3 dias ago

PÉROLAS que ACABAM de entrar na AMAZON PRIME

Eu facilitei o seu garimpo cultural, selecionando os melhores filmes dentre aqueles títulos que entraram…

1 semana ago