Críticas

“A Odisseia dos Tontos”, de Sebastián Borensztein, no TELECINE

A Odisseia dos Tontos (La odisea de los giles – 2019)

Um grupo de amigos e vizinhos perde o dinheiro que havia conseguido reunir para reformar uma antiga cooperativa agrícola. Em pouco tempo, descobrem que sua poupança se perdeu por uma manobra realizada por um inescrupuloso advogado e um gerente de banco que contavam com informação do que ia acontecer no país, o que leva o grupo, sem qualquer habilidade em atividades criminais, a organizar-se e preparar um minucioso plano com o objetivo de recuperar o que os pertence.

O diretor argentino Sebastián Borensztein, de “Um Conto Chinês”, repete a parceria com Ricardo Darín, após o mediano “Kóblic”, utilizando inteligentemente as convenções dos filmes de assalto norte-americanos (com montagem dinâmica) e apostando no humor como elemento crítico ao cenário de crise financeira na Argentina, ambientando a trama em 2001, mas estabelecendo paralelo óbvio com a falência sociopolítica que a nação vive nos dias de hoje, escrava da utopia socialista.

Fermín (Darín), que na juventude deu orgulho à sua cidadezinha como jogador de futebol, agora finge ignorar que falta uma mão na sua estátua na praça, legado empoeirado que deseja superar com um plano ambicioso, reunir-se com conhecidos que compartilham o vazio existencial e adquirir um galpão abandonado, o primeiro passo como empreendedor no ramo agrícola. É quando o destino prega uma peça, o Corralito (similar ao nosso Plano Collor) do governo de Fernando de la Rúa impõe forte recessão, levando o grupo ao confronto direto com o coerentemente caricato advogado Fortunato Manzi (Andrés Parra).

Uma esperançosa ode calorosa à solidariedade, potencializada pela celebração dos valores familiares, representados principalmente na relação entre Fermín e seu filho (vivido por Chino Darín, filho do ator), “A Odisseia dos Tontos” pode incomodar quem espera abordagem mais cínica, anárquica, anticapitalista, já que não é a proposta do diretor subestimar a inteligência do público reduzindo o problema à panfletos politiqueiros. O vilão é a injustiça, logo, o espectador sente imediata empatia pelo grupo, favorecendo a recompensadora catarse emocional do terceiro ato, compensando alguns deslizes melodramáticos.

Cotação:

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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