Nashville (1975)
Em Nashville, capital da música country, nos dias que antecedem o comício de um popular candidato à presidência, pessoas comuns demonstram sua obsessão por fama e poder, incluindo aspirantes ao estrelato, a esposa de um fugitivo e um guru.
Você assiste a primeira vez e encontra uma experiência entediante, mas aquele roteiro fica na sua cabeça e você começa a refletir sobre os temas superficiais e subliminares, percebendo como o cenário apresentado segue assustadoramente atual, do sistema político à falta de empatia nas entranhas da indústria musical, e, mais importante, você compreende que aquele punhado de personagens conscientemente tratados com distância emocional na trama, caricaturas intensamente patéticas, atuam por necessidade de forma antinatural, um elemento que casa perfeitamente com o estilo caótico do diretor, peões que aceitam sem questionamento as regras do jogo, cobiçando uma chance de serem notados na multidão.
A ideia de iniciar o filme com uma vinheta de cafona propaganda televisiva já dá o tom, mas há uma excelente cena que evidencia a mensagem da obra, quando o filho de Haven Hamilton (Henry Gibson), Bud (David Peel), decente, honesto, mostra sua música autoral para a jornalista vivida por Geraldine Chaplin, uma figura entusiasmada e inconveniente que representa o vazio fútil que move as engrenagens da indústria, a poesia doce e pura da canção é desprezada brutalmente, a jovem nem presta atenção na letra e se levanta antes mesmo do final, correndo para estabelecer contato sorridente com alguém “famoso”, Elliott Gould vivendo ele mesmo, brincando com o clichê do “astro do cinema”, atitude blasé e óculos escuros.
As várias narrativas no roteiro de Joan Tewkesbury convergem no surpreendente desfecho alegórico em sua violência, ecoando a desesperança dos últimos estertores da guerra do Vietnã e as consequências psicológicas do caso Watergate.
“Nashville”, que conta também com atuações brilhantes de Karen Black, Ned Beatty e Shelley Duvall, entre outros, pode não ser o melhor filme na carreira de Altman, nem o mais indicado como “peça introdutória”, mas segue instigante após todos estes anos.
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