Críticas

“Salomão e a Rainha de Sabá”, de King Vidor

Salomão e a Rainha de Sabá (Solomon and Sheba – 1959)

Com o falecimento do rei Davi (Finlay Currie), o trono passa a ser ocupado por Salomão (Yul Brynner). O povo de Israel prospera e fortalece tanto que os egípcios, seus inimigos, resolvem mandar ao local a rainha de Sabá (Gina Lollobrigida), para descobrir os pontos fracos de Salomão e assim poder derrotá-lo.

Os bastidores acabaram eclipsando este belíssimo exemplar do subgênero épico bíblico, uma injustiça.

Tyrone Power, que já havia filmado boa parte do filme como Salomão, sofreu um ataque cardíaco durante as filmagens da cena em que duelava com George Sanders, falecendo pouco depois em seu camarim. A produção quase foi cancelada, mas o amigo do ator, Yul Brynner, decidiu aceitar a missão em respeito aos esforços de toda a equipe, refazendo tudo em dez semanas.

É comum encontrar análises preguiçosas, cínicas, comparando de forma depreciativa com “Ben-Hur”, lançado no mesmo ano, ou citando de forma jocosa a forma encontrada para inserir o elemento cristão na trama, como a opção de dar voz à Deus. O caso é que qualquer crítica que não leve em consideração a proposta da obra está fadada ao descrédito.

O roteiro de Anthony Veiller, Paul Dudley e George Bruce, a partir do argumento de Crane Wilbur, não busca a verossimilhança histórica, tampouco fidelidade às escrituras, mas sim, utiliza o romance improvável entre o poeta judeu monoteísta e a malandra rainha politeísta como alegoria para transmitir a mensagem do necessário respeito às crenças e tradições alheias, que devem conviver harmonicamente.

A rainha, vivida pela belíssima Gina Lollobrigida, inicialmente planejava introduzir o paganismo em Jerusalém, mas, após presenciar a sabedoria e o intenso humanismo do rei no julgamento das duas pretensas mães, apaixona-se por sua integridade e se arrepende de seus atos.

Tecnicamente, “Salomão e a Rainha de Sabá” é primoroso, os figurinos são acima da média e a fotografia do britânico Freddie Young, que havia feito “Sede de Viver” e faria anos depois “Lawrence da Arábia” e “Doutor Jivago”, conjura verdadeiros milagres utilizando a desértica profundidade de campo, frames que poderiam ser emoldurados.

Cotação:

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

View Comments

Recent Posts

Crítica de “O Brutalista”, de Brady Corbet

O Brutalista (The Brutalist - 2024) Arquiteto (Adrien Brody) visionário foge da Europa pós-Segunda Guerra…

3 horas ago

Dica do DTC – “Nazareno Cruz e o Lobo”, de Leonardo Favio

No “Dica do DTC”, a nova seção do “Devo Tudo ao Cinema”, a intenção não…

2 dias ago

Os MELHORES episódios da fascinante série “BABYLON 5”

Babylon 5 (1993-1998) Em meados do século 23, a estação espacial Babylon 5 da Aliança…

3 dias ago

Os 7 MELHORES filmes na carreira do diretor britânico JOHN SCHLESINGER

O conjunto de obra do saudoso diretor britânico John Schlesinger é impressionante, mas selecionei 7…

4 dias ago

PÉROLAS que ACABAM de entrar na NETFLIX

Eu facilitei o seu garimpo cultural, selecionando os melhores filmes dentre aqueles títulos que entraram…

7 dias ago

Crítica de “A Garota da Agulha”, de Magnus von Horn, na MUBI

A Garota da Agulha (Pigen Med Nålen - 2024) Uma jovem (Vic Carmen Sonne) grávida…

1 semana ago