Dirty Harry na Lista Negra (The Dead Pool – 1988)
Em um jogo cruel, apostas são feitas em qual celebridade será a próxima a ser eliminada. O inspetor Harry Callahan (Clint Eastwood) terá que agir rápido…
A ideia de entregar o projeto nas mãos de Buddy Van Horn, um coordenador de dublês experiente, trabalhando o roteiro inegavelmente carente de polimento de Steve Sharon, talvez tenha sido arriscada e equivocada, o resultado, principalmente se comparado às quatro aventuras anteriores na franquia, peca por abraçar a abordagem simplista dos similares de ação do período, mas está longe de ser um filme ruim, o carisma imbatível de Clint Eastwood e a temática corajosa compensam qualquer falha.
Na realidade, a obra foi um gesto de gratidão do ator com o estúdio Warner, que havia financiado “Bird”, seu sonho como cineasta, conscientemente pouco comercial, logo, enxergando esta despedida como um agradecimento aos fãs pelo carinho com o personagem, o espectador mais rigoroso consegue relevar pontos mais exóticos na trama, como a presença histriônica de um jovem Jim Carrey, vivendo o estereótipo do roqueiro problemático, e o desfecho nada sutil, que mais parece saído de uma das fitas do Chuck Norris.
A crítica Pauline Kael, que apedrejou o primeiro “Dirty Harry”, que chamou de fascista, racista, exibindo mais traços de militância política do que de analista artística profissional, recebe desta feita uma “homenagem” clara, escalaram uma senhora muito parecida com ela para o papel inglório da crítica de cinema que é vítima do criminoso.
É uma resposta debochada à perseguição da indústria aos artistas de direita que se posicionam publicamente, até porque a história aborda essencialmente o papel da violência na sociedade. Callahan elimina bandidos, ele não os enxerga como vítimas, ele não enxerga justiça como um conceito subjetivo, logo, ele é um símbolo perigoso para quem é beneficiado pela criminalidade e pelo caos, já que provoca no público comum, no cidadão que sofre diariamente com a impunidade, a catarse do justo revide.
Uma das cenas mais impactantes é aquela em que um homem finge ser o criminoso procurado, apenas para atrair a atenção da imprensa e do povo, ameaçando dar fim à própria vida, claro, somente se o seu ato for devidamente filmado e transmitido ao vivo para todo o país. A reação de Callahan é de nítido espanto, a solução que ele encontra é simplesmente desligar a câmera.
A imagem que nos conduz aos créditos finais reforça este leitmotiv, enquanto todos os jornalistas correm na direção do sensacionalismo barato e grosseiro, Callahan se afasta na direção contrária com sua nova aliada, a bela repórter Samantha, vivida por Patricia Clarkson, alguém que experimentou na pele o veneno que outrora produzia e, transformada, entendeu a diferença entre o escapismo saudável advindo do mundo do entretenimento (como a própria franquia cinematográfica) e o ciclo financiado de violência real, esquema que envolve diretamente a própria imprensa.
Provavelmente por tocar nesta ferida aberta, apontando o dedo para os reais culpados, o filme tenha sido através dos anos conscientemente “jogado para baixo do tapete”, equívoco que precisa ser desfeito.
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