Críticas

“Um Sonho de Liberdade”, de Frank Darabont, na HBO MAX

Um Sonho de Liberdade (The Shawshank Redemption – 1994)

Andy Dufresne (Tim Robbins) é condenado a duas prisões perpétuas consecutivas por crimes que ele não cometeu. No presídio, durante 19 anos, ele faz amizade com Red (Morgan Freeman), um prisioneiro que cumpre pena há 20 anos e controla o mercado negro da instituição.

“É terrível viver com medo.”

O diretor Frank Darabont comprou os direitos para adaptar o livro de Stephen King em 1987, deixou na gaveta por cinco anos, trabalhou o roteiro por oito semanas e apresentou aos engravatados do estúdio, que investiram no potencial da trama, mas, por mais que seja difícil de acreditar hoje, apesar de ter sido indicada ao Oscar (não levou nenhuma estatueta), a obra foi uma tremenda decepção nas bilheterias.

O público simplesmente não deu chance ao conceito, mas o projeto ganhou sobrevida em seu lançamento em VHS, e, tempos depois, em exibições televisivas, tornando-se, já por muitos anos, o filme mais popular na lista TOP 250 do respeitado site IMDb (Internet Movie Database), ultrapassando até “O Poderoso Chefão”.

Qual é o segredo do sucesso?

“A salvação vem de dentro.”

Existem muitos filmes tecnicamente primorosos que ostentam prêmios nas prateleiras, mas que são esquecidos em questão de meses, outros, como esta pérola, conquistam o coração do espectador por décadas, tornam-se cults porque algo em suas mensagens toca verdadeiramente o subconsciente, algo que não tem relação com técnica ou qualquer elemento passível de medição, algo que está mais próximo do poder da mitologia, pois fala diretamente à essência humana.

A chegada do jovem Andy (Robbins) na penitenciária perturba os veteranos, como Red (Freeman), que apostou que aquela figura franzina, silenciosa, seria facilmente quebrada logo na primeira noite.

Ao constatar que o novato se manteve impávido, não apenas naquela noite, como também nas posteriores, o sistema de crenças da ave engaiolada, acostumada à escravidão, foi implacavelmente destruído. Todos os presos juram que são inocentes, mas, nos lábios do rapaz, a defesa apaixonada de que uma terrível injustiça foi cometida é intensamente crível.

A curiosidade debochada logo deu lugar à admiração.

“Alguns pássaros não nasceram para viver em gaiolas.”

Andy é estudioso, sabe se expressar, passa a fazer o imposto de renda de todos os guardas e até do diretor do presídio, mas, principalmente, educa seus colegas pelo exemplo, mostrando o valor do autoaprimoramento intelectual/cultural, expandindo a biblioteca do local, facilitando para que os presos consigam seus certificados escolares, em suma, mantendo suas mentes ocupadas com atividades enriquecedoras de caráter.

A surpresa do terceiro ato é operática em sua linda execução, porque evidencia que, enquanto ele presenteava por vários anos aqueles indivíduos falhos com as ferramentas necessárias para que forjassem novas e mais positivas perspectivas de vida pós-penitência, o próprio, tendo dominado as regras daquele jogo, meticulosamente preparava seu xeque-mate.

Um dos filmes mais amados da década de 90, “Um Sonho de Liberdade” transcendeu sua origem literária, entrou para a cultura popular, com um roteiro que segue eficiente em sua entrega emocional.

A trama utiliza as convenções narrativas do subgênero de drama prisional como trampolins para construir uma alegoria poderosa e de apelo universal sobre a necessidade de, principalmente nos momentos mais difíceis, optar por DESEJAR viver, não apenas passear pela breve experiência, mas sim, corajosamente enfrentar um sistema mentiroso que te quer amordaçado e subserviente.

Andy se preparou incansavelmente, instruindo mente e corpo, para extrair da vida o doce sumo da preciosa e inegociável LIBERDADE.

Cotação:

Trilha sonora composta por Thomas Newman:

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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