Séries

Crítica da terceira temporada da série “Cobra Kai”, na NETFLIX

Cobra Kai – Terceira Temporada (2021)

  • Leia a crítica da primeira temporada AQUI.
  • Leia a crítica da segunda temporada AQUI.

O meu foco são os filmes, sempre reforço que é difícil conseguir o tempo necessário para analisar séries, até porque, infelizmente, raras são aquelas que conseguem manter o nível de qualidade até o fim, a maioria se perde no meio do caminho, mas ver “Cobra Kai” é um prazer, episódios curtos, objetivos, com roteiros espertos do trio Jon Hurwitz, Hayden Schlossberg e Josh Heald.

Assim como ocorreu nas temporadas anteriores, vi os 10 episódios em sequência (qual outra série consegue este feito?), com um sorriso constante no rosto, enriquecido de vez em quando por algumas lágrimas. Claro, a análise não terá spoilers, não ouso prejudicar a sua experiência.

Apesar de ter sido comprada ano passado pela Netflix, a temporada já estava finalizada objetivando a transmissão pelo Youtube Red, provavelmente os criadores conjecturaram em algum ponto da produção a hipótese de (devido à instabilidade) que ela fosse a última, logo, o todo não consegue alcançar o ritmo preciso das anteriores, o equilíbrio afinado, deixando à mostra problemas perceptíveis na estrutura.

Há pressa no desenvolvimento da trama, alguns segmentos sofrem bastante, como o primeiro episódio (confuso, repetindo exageradamente flashbacks da cena do jovem fraturando a coluna) e o interlúdio de Daniel (Ralph Macchio) em Okinawa, infelizmente reduzido à nota de rodapé em apenas 1 episódio (passa a nítida impressão de que originalmente seria o coração pulsante da temporada), prejudicando bastante a recompensa emocional dos três (sim, três, ainda que o último seja o mais prejudicado) reencontros que remetem à “Karatê Kid 2 – A Hora da Verdade Continua”.

O miolo é arrastado, em alguns momentos até cansativo, consequência natural da falta de polimento pela pressa, sensação inédita na série. Vale destacar que novamente o momento mais emocionante envolve o legado do Sr. Miyagi (Pat Morita), exatamente no segmento mais corrido, uma linda cena, plena em delicadeza, que é um presente para os fãs.

Outro ponto problemático é o tempo generoso dedicado à origem do vilão, John Kreese (Martin Kove), buscando incitar empatia com um sociopata, algo que realmente não funciona na prática, principalmente porque (provavelmente por questões orçamentárias) a ambientação das sequências passadas na Guerra do Vietnã é sofrível, não dá para ser colocado na conta do charme oitentista caricatural (executado tão bem no núcleo escolar, por exemplo), soa desleixado, parece trabalho de teatro de escola infantil. A mente do espectador se divide entre tentar entender porque está sendo levado à sentir pena de um monstro e evitar quebrar a suspensão de descrença na reconstituição do evento.

É compreensível inserir camadas de interpretação nas motivações do personagem (até porque um dos motivos de explorar este contexto é conduzir, na próxima temporada, já confirmada, ao retorno de uma figura inesquecível de “Karatê Kid 3 – O Desafio Final”), mas estimular que o público sinta pena? Se TODO MUNDO é HERÓI e VILÃO, NINGUÉM é HERÓI nem VILÃO, um conceito distorcido que só cola na agenda cultural de ditaduras, que priorizam pela confusão nas mentes mais vulneráveis para facilitar o controle.

Felizmente, os pontos positivos superam os negativos (não posso abordar aqui a maioria porque seria spoiler), a paixão pelo material ainda é a alma da obra, você percebe o carinho dos roteiristas e do elenco, assim como o entendimento perfeito do Karatê como alegoria para os conflitos da vida, viés compartilhado com o clássico “Rocky, Um Lutador” (dirigido pelo mesmo John G. Avildsen da trilogia “Karatê Kid”), pedra no sapato de qualquer crítico que tente equivocadamente analisar a história pela ótica realista. Vale ressaltar que intensificaram o humor neste ano, grande acerto, situações hilárias, bem escritas e que não soam forçadas.

Se você reclamava da ausência de artes marciais nas temporadas passadas, a terceira aposta pesado na essência, inserindo várias possibilidades para coreografias engenhosas, incluindo uma empolgante parceria entre Daniel e Johnny (William Zabka) e uma épica batalha final do núcleo adolescente que supera (em escopo e execução, sem cortes) o clímax da segunda. Fico imaginando como seria bacana se a série futuramente investisse no resgate de astros que são símbolos do gênero no período, como Cynthia Rothrock, Phillip Rhee, Jeff Speakman, Chuck Norris ou Van Damme.

“Cobra Kai” trata com respeito e intensa criatividade a nostalgia daqueles que viveram os anos 80 e a inteligência emocional do público mais jovem.

Cotação:

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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