Popeye (1980)
Numa noite de tempestade, o rabugento de bom coração marinheiro Popeye, chega em um pequeno barco ao porto da comunidade litorânea de Sweethaven. Ele aluga um quarto na pensão da família Palito e rapidamente se apaixona pela filha dos proprietários, Olívia. Olívia, está perturbada pois fora prometida em casamento para o Capitão Brutus, um encrenqueiro rufião que oprime a comunidade cobrando impostos abusivos para o seu chefe, o misterioso Comodoro.
Eu tenho uma relação interessante com este filme, apesar de, quando criança, acompanhar a animação do personagem na televisão, não conseguia me conectar emocionalmente com esta representação live action. Algo na fita me causava real enjoo, algumas sequências me deixavam deprimido, aquilo que a capa do VHS vendia, um musical divertido, estava longe de ser a realidade lúgubre que a fotografia do mestre Gioseppe Rotunno captava.
À época, eu, ainda pequeno, não conhecia o trabalho do diretor Robert Altman, apenas quando revi a obra anos depois pude constatar a coragem do roteiro de Jules Feiffer. Qual filme direcionado às crianças começa com uma música que parece uma marcha fúnebre (“Sweethaven”, de Harry Nillson), emoldurando a chegada do protagonista, que, antes mesmo de abrir a boca, já é recepcionado pelo cobrador de impostos?
Se considerarmos que a indústria hoje em dia se acostumou a oferecer exatamente o que o público deseja, aniquilando a criatividade, dá gosto rever este símbolo de ousadia incomparável no gênero.
A direção subverte as convenções do musical, inserindo momentos dignos do melhor Jacques Tati no meio de canções entoadas de maneira displicente. Robin Williams (Popeye), Shelley Duvall (Olívia) e Paul L. Smith (Brutus) são recriações exatas do visual e da essência dos personagens.
O desfecho, em um toque esperto, resgata com fidelidade o espírito das histórias originais e da animação, como se tudo o que havia ocorrido até então fosse apenas a construção daquele universo, que se inicia verdadeiramente quando Popeye, vitorioso e reconhecendo a importância do espinafre, canta e dança sua clássica música-tema.
Uma pérola incompreendida à época que merece ser redescoberta.
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