Críticas

“No Oeste de Zanzibar” (1928), de Tod Browning, com LON CHANEY

No Oeste de Zanzibar (West of Zanzibar – 1928)

Phroso (Lon Chaney) é um bem-sucedido mágico casado com Anna (Jacqueline Gadsden), que também é objeto de desejo de outro homem, o comerciante de marfim Crane (Lionel Barrymore). Quando Anne deixa Phroso para ficar com Crane, começam as tragédias. Numa briga com Crane, Phroso fica paralítico. Alguns meses depois, Anna já não está com o amante e falece deixando uma criança. Com sua vida destruída, Phroso jura vingança e parte para África. Dezoito anos depois, ele se tornou o líder de uma tribo africana, parte de seu plano para liquidar Crane.

Quando estudei a carreira de Lon Chaney na adolescência, apaixonado pelo cinema de terror, devorando matérias na revista Cinemin, fiquei muito curioso com esta pérola muda, impossível de encontrar na época em VHS, nem mesmo os donos e atendentes das locadoras de vídeo sabiam de sua existência. Anos depois, com o início do garimpo na novidade chamada internet discada, quando atravessava madrugadas buscando estes tesouros, o máximo que encontrei foram trechos. Só na época da faculdade é que finalmente tive contato com a obra, um show de atuação do grande Chaney, uma trama sombria, suja, doentia, de clima pesado, especialidade do diretor Tod Browning, de “Drácula” (1931) e “Monstros” (1932).

Chaney, um gigante da era muda (recomendo para os interessados a cinebiografia “O Homem das Mil Faces”, de 1957, com James Cagney), traduzia o aspecto grotesco interno dos personagens na representação física, utilizando maquiagem, moldando seu corpo, técnica extremamente dolorida, uma dedicação que encontrou a parceria perfeita na figura do diretor Browning, que também enxergava a arte de forma visceral, o interesse mútuo era retirar o público da zona de conforto, como em “O Monstro do Circo”, de 1927, e “No Oeste de Zanzibar”. O filme foi baseado em uma peça da Broadway, “Kongo”, protagonizada por Walter Huston (pai do diretor John Huston), que atuou na ótima refilmagem falada lançada em 1932, um clássico título do período libertário da Hollywood pré-code, livre de qualquer censura temática.

A jornada de vingança do protagonista traz toques do livro “O Coração das Trevas”, de Joseph Conrad, logo, remete ao coronel Kurtz vivido por Marlon Brando em “Apocalypse Now”, com a transformação do mágico gentil e civilizado em um sociopata repulsivo no coração da selva, que, utilizando seus velhos truques de mágica, consegue se fazer passar por um bruxo, dominando os nativos. O plano se completa com o sequestro da jovem Maizie (Mary Nolan), filha de seu inimigo, iniciando um processo degradante que culmina numa reviravolta verdadeiramente chocante e inesquecível.

* Você encontra facilmente o filme garimpando na internet.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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