Críticas

Tesouros da Sétima Arte – “O Enigma de Kaspar Hauser”, de Werner Herzog

O Enigma de Kaspar Hauser (Jeder für Sich und Gott gegen Alle – 1974)

Kaspar Hauser (Bruno S.) está perdido e não consegue falar ou se locomover quando é encontrado nos anos 1820. Ele passou a vida toda trancado, sendo espancado e sem qualquer convívio humano. As pessoas que o encontram tentam civilizá-lo.

O título original do filme: “Cada um por si e Deus contra todos” exprime com exatidão a mensagem desta obra sensacional do alemão Werner Herzog. Ele utiliza a história real do jovem Kaspar Hauser, que durante grande parte de sua vida foi mantido em um cativeiro, sem nenhum contato com a civilização.

Ele não sabia andar ou se comunicar, tampouco entendia que havia outros seres como ele. Como trocavam sua comida durante seu sono, ele acreditava que sua alimentação aparecia como que por mágica, sempre após ele fechar os olhos. O seu único companheiro era um pequeno cavalo de madeira.

A sua vida muda quando um homem adentra sua prisão e o entrega de volta à sociedade, deixando-o de pé no meio de uma praça na cidade de Hamburgo. Munido apenas de uma carta e um livro de orações, o jovem vislumbra pela primeira vez o mundo.

O diretor escolheu Bruno S. para viver o jovem. Ele havia passado sua vida inteira em instituições para doentes mentais e nunca havia atuado. Os seus olhos sempre distantes e assustados, como se vissem o mundo pela primeira vez.

O filme nos questiona sobre o que consideramos ser normal dentro da estrutura de uma sociedade contraditória, que não sabe como reagir ao entrar em contato com um homem puro, sem cultura e regras a seguir.

Os religiosos se revoltam, já que ele resiste à aceitação sem questionamentos do mistério da fé. Ele desconhece a ideia de Deus como força superior e debate questões de lógica com um professor.

O roteiro trabalha bem a necessidade do convívio social para a formação de uma psique saudável, a sua estrutura sem concessões narrativas mercadológicas busca colocar o espectador na pele do protagonista, provocando reflexões importantes e existencialmente difíceis a partir de cenas aparentemente simples.

“O Enigma de Kaspar Hauser” é o meu filme favorito de Herzog, com cenas brilhantes e uma história verdadeiramente inesquecível, uma das melhores obras do cinema alemão.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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