Filhos de Istambul (Kagittan Hayatlar – 2021)
Nas ruas de Istambul, Mehmet (Çagatay Ulusoy), um catador de papel, decide ajudar um garoto, Ali (Emir Ali Dogrul), e acaba tendo que confrontar os traumas da própria infância.
É possível que o nome do diretor não desperte o interesse da maioria, já que poucos no Brasil conhecem a pérola “Ayla, a Filha da Guerra” (2017), emocionante drama que pode ser facilmente garimpado na internet, mas todos que conhecem o potencial de Can Ulkay para extrair lágrimas com dignidade do público, sem forçar a barra, encontrarão em “Filhos de Istambul” mais um porto seguro.
O ótimo roteiro de Ercan Mehmet Erdem, emoldurado pela fotografia elegante de Serkan Güler, é profundamente triste em essência, mas a sua mensagem é preciosa.
“Morrer não é um problema. Mas e os sonhos que temos?”
A atuação espetacular de Çagatay Ulusoy é fundamental no desenrolar da trama, o conceito revelado plenamente no desfecho poderia naufragar caso o seu personagem pendesse para facilitadores emocionais, exageros que poderiam servir como dicas e que arruinariam a experiência imersiva da revisão, a sinceridade brutal que ele entrega do início ao fim garante o impacto sensorial do público e fortalece em simbolismo a eventual segunda sessão.
No seu rosto castigado pelos anos de abandono social, Mehmet mantém o olhar inocente e esperançoso da criança de outrora, o sorriso frágil de quem nunca experimentou uma decepção, detalhes sensíveis que o ator injeta em momentos específicos (mais perceptíveis em revisão), cenas aparentemente comuns, como se, consciente em algum nível da ilusão protetora, ele implorasse por mais uma chance.
A dor física (o problema renal) é a lembrança contínua de que seu tempo está acabando, mas é a sua dor psicológica que age como lenta cicatrização para a ferida existencial exposta. A poética e intensamente melancólica redenção de sua jornada é verdadeiramente compreender e fazer as pazes com sua própria vida.
A opção pela curta duração é inteligente, o ritmo é fluido, com necessários alívios cômicos bem executados, mas a pegada é intensa.
Os últimos 20 minutos são avassaladores, a reviravolta muito bem trabalhada emociona até mesmo quem desconfiava do truque.
A cena em que o protagonista, já desorientado pela dor extrema, pega todo o dinheiro que juntou ao longo dos anos catando papel nas ruas para custear seu transplante e, enfrentando seus amigos mais queridos, parte cambaleante para reencontrar seu passado, tendo a foto de sua mãe (simbologia importante, colada com fita adesiva, memória restaurada após um rompante de fúria) como único escudo emotivo, não poderia ser mais forte.
Ele literalmente está disposto a trocar sua única esperança de sobrevivência por alguns minutos de paz, ainda que irreal, uma breve sensação de pertencimento.
“Filhos de Istambul” é bonito em todos os sentidos, desde já, um dos melhores filmes do ano.
Cotação:
Eu facilitei o seu garimpo cultural, selecionando os melhores filmes dentre aqueles títulos que entraram…
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Obrigada,pelas indicações, pelas boas críticas...belo trabalho!
Excelente filme. Extremamente triste mas, real e bem composto.
Adorei o filme. Achei honesto e sensível na medida. Não apelou para lágrimas fáceis, embora o tema seja de uma tristeza avassaladora.
Excelente! Chorei. Não tem.como não se emocionar!
Excelente! Filme intenso, envolvente, triste e emocionante. Indiquei para pessoas que não souberam interpretar...paciência. Como professora, um filme didático que tem muito a ensinar sobre família e o impacto devastador da falta dela.
Sem dúvidas foi o melhor filme do ano, quiçá da minha vida! Estou passando por um período difícil em minha vida, e esse filme de certa forma me salvou! Gratidão ao universo pelo filme e seus aprendizados!