Dez Segundos de Perigo (Junior Bonner – 1972)
Famoso vaqueiro (Steve McQueen), campeão de rodeios, volta à sua cidade natal para um campeonato, no qual deve montar o mesmo animal que um dia o derrubou.
Aos olhos dos fãs da faceta mais violenta do diretor Sam Peckinpah, “Dez Segundos de Perigo” pode ser uma experiência estranha, mas eu considero um dos pontos altos de sua carreira, uma visão terna e calorosa da cultura dos rodeios, com uma atuação minimalista e instintiva do grande Steve McQueen, que vive um simplório vaqueiro veterano capaz de enfrentar seu maior trauma para trazer alguns momentos de felicidade para seu velho pai (Robert Preston), realizando seu antigo sonho.
A mãe (Ida Lupino) leva no rosto de expressões pesadas a plena consciência de que aquele mundo que conheceu na juventude está sendo rapidamente substituído, elemento representado por seu outro filho, Curly (Joe Don Baker), um empreendedor festivo que tenta lucrar de todas as formas com a modernização do local, transformando o elegíaco Velho Oeste em uma caricatura de tintas fortes para visitantes.
O leitmotiv é claro, a alegoria da vida como os breves segundos em que os mais corajosos suportam os coices do touro antes da humilhante queda, a glória frágil e tão perseguida, para deleite de outrem, enquanto todo o resto impiedosamente parece evaporar no horizonte. Utilizando convenções da comédia, o roteiro de Jeb Rosebrook proporciona momentos leves que McQueen domina sem dificuldade, como na sequência de briga no saloon lotado, em que o protagonista consegue, com charme e tranquilidade, carregar a bela acompanhante do dignitário para um local reservado, perturbado vez ou outra pela balbúrdia externa.
É uma cena que parece destoar do clima da obra, mas que, pelo contrário, enfatiza sua essência familiar, com o design de som potencializando o aspecto da intensa diversão que move aquelas pessoas entre sopapos e mesas quebradas, o caos emoldurado pela trilha sonora de uma banda que se recusa a parar de tocar, e, que, ao final, aceitando o pedido de um dos brigões, entrega o hino nacional dos Estados Unidos, respeitado até mesmo pelo personagem de McQueen, que interrompe seu tão desejado flerte com a dama proibida. A simbologia é bonita, uma espécie de despedida consciente de uma era e, mais que isto, de um estilo de vida.
O projeto que chegou a ser cogitado como veículo para o diretor Monte Hellman foi praticamente esquecido nas últimas décadas, tremenda injustiça, merece ser redescoberto pelos cinéfilos dedicados.
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Eu facilitei o seu garimpo cultural, selecionando os melhores filmes dentre aqueles títulos que entraram…
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