Um Raio de Luz (Un Rayo de Luz – 1960)
Um homem e uma mulher se casaram secretamente. Ele pertence a uma família rica e ela é uma atriz e cantora pobre e esforçada. Um dia, ele decide contar à família que é casado e vai para a casa deles na Itália, mas o avião cai e ele falece. Quando seu irmão vai à Espanha para identificar o corpo, ele conhece sua cunhada, agora viúva, e descobre que ela está grávida. Ela pede apenas que a família financie a educação da criança, a pequena Marisol.
Os filmes com a pequena Marisol, vendida à época como a Shirley Temple espanhola, infelizmente estão acumulando poeira nas prateleiras do tempo, injustiça que pretendo reverter com este texto. Neste primeiro projeto, há uma presença no elenco que deveria bastar para atrair a atenção do público brasileiro, o saudoso Anselmo Duarte, dois anos antes de receber como diretor a Palma de Ouro em Cannes pelo maravilhoso “O Pagador de Promessas”.
Josefa (Pepita) Flores era uma criança encantadora, de origem muito humilde, nascida em Málaga, Andaluzia, que esbanjava carisma cantando e dançando. O produtor Manuel Goyanes percebeu o potencial financeiro na menina e mudou a cor do cabelo dela, ajeitou o nariz, pagou aulas de inglês, em suma, criou sua nova persona cinematográfica, a internacional Marisol, uma força da natureza que, com um radiante sorriso, apresentava ao mundo uma visão muito diferente da Espanha cinzenta do período. O esforço já se provou válido logo na primeira tentativa, com “Um Raio de Luz”, ela, com apenas 11 anos de idade, recebeu o prêmio de Melhor Atriz Infantil no Festival de Veneza. No ano seguinte, já se apresentava no lendário programa televisivo norte-americano “The Ed Sullivan Show”, ao lado do grande Harpo Marx.
A sua entrada em cena já é forte, cantando a clássica napolitana “Santa Lucia“, de costas para a pianista, demonstrando em sua expressão o tédio que sente, antes de irritar todos com floreios vocais rebeldes; a trama então mostra em flashback o trágico falecimento de seu pai e sua vida agitada no colégio de freiras, com destaque para sua entrega teatralizada na canção “Llorando y mirando al cielo“, com direito à dança flamenca, claro, interrompida friamente pela sisuda madre.
É a exposição necessária para que o público entenda a personagem, um espírito livre, feliz, capaz de, com seus olhinhos azuis, enternecer um coração de ferro. O sonho que move seu coração é reencontrar sua mãe, que acredita ser uma grande cantora de fama mundial. O roteiro é simples, previsível, mas a execução é eficiente.
“Um Raio de Luz” é uma pérola que merece ser redescoberta.
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