Um Clarão nas Trevas (Wait Until Dark – 1967)
Uma mulher (Audrey Hepburn) que ficou cega recentemente é atormentada por um trio de bandidos (Alan Arkin, Richard Crenna e Jack Weston) enquanto eles procuram por uma boneca, cheia de heroína, que eles acreditam que está em seu apartamento.
Um dos filmes mais populares à época, com roteiro de Robert Carrington e Jane Howard-Carrington, baseado na peça homônima de Frederick Knott, este thriller psicológico merece ser redescoberto, já que, em revisão para este texto, provou ser tão eficiente quanto no dia de sua estreia, favorecido pela presença carismática da inesquecível Audrey Hepburn, que arriscou sair de sua zona de conforto, entregando um de seus momentos mais impactantes.
A sequência final é lembrada, com justiça, em várias listas de cenas mais angustiantes da história do cinema, mas o brilhantismo da obra reside na espetacular construção de suspense, do início ao fim, uma preciosa aula do diretor Terence Young, emoldurada musicalmente pela trilha do grande Henry Mancini.
A proposta da história é simples, o refinamento está na forma como ela encontra maneiras de prender sua atenção. É comum ler da garotada hoje que o primeiro ato é lento, afinal, o público atual imediatista pede para ser tratado pela indústria como robô, gosta de receber tudo mastigado, o imprevisível é tido como algo ofensivo, a massa reclama: “Pô, não é aquilo que eu imaginei”, como se um dos objetivos da arte não fosse desafiar a expectativa do espectador.
O recurso do jump scare, utilizado tão bem neste projeto, elemento verdadeiramente necessário na trama, involuiu através das décadas para uma rasteira sinalização sensorial à claque de que existe algo relevante na tela, um lembrete de que, apesar do fraco desenvolvimento narrativo, a equipe técnica pede carinhosamente que reajam automaticamente ao que fingem estar vendo, entre uma olhada e outra para o smartphone.
Basta perceber que o susto de “Um Clarão nas Trevas” é lembrado até hoje por todos, assim como o desfecho de “Carrie – A Estranha” (1976) ou a sequência na escadaria de “Psicose” (1960). É necessário que o choque venha como consequência de um forte investimento emocional do público, algo que é construído principalmente nas cenas tranquilas (o que hoje é tido em tom depreciativo como lentidão), o susto pelo susto é artimanha barata de trem fantasma, esquecido no mesmo minuto, qualquer cineasta incompetente consegue realizar.
Um dos pontos fundamentais na equação de sucesso é uma fórmula que Hitchcock dominava, o roteiro coloca o espectador um passo a frente da fragilizada protagonista, com informações privilegiadas, sabemos que os três bandidos estão se aproveitando da condição física da vítima.
A opção pelo espaço cênico reduzido reforça a sensação de claustrofobia que compartilhamos com a mulher, com auxílio valioso do design de som, que enfatiza detalhes, como os passos no piso e o abrir/fechar das persianas, estabelecendo um cenário verdadeiramente ameaçador.
Se você ainda não viu esta pérola, não perca tempo, vale cada segundo investido.
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