O Intendente Sansho (Sansho Dayu – 1954)
Japão, século XI. A família de Taira (Masao Shimizu) é separada pelas lideranças feudais. Seus dois filhos, Zushiô e Anju, são enviados para um campo de trabalho escravo comandado pelo temido Sanshô (Eitarô Shindô), enquanto sua esposa, Tamaki (Kinuyo Tanaka), é forçada a prostituir-se em uma região isolada.
É impossível transmitir a emoção que este filme causa no espectador. Não há uma viva alma capaz de sair indiferente de uma sessão de “O Intendente Sansho”, esta é a obra perfeita para mostrar aos que, por desconhecimento, rejeitam o timing do cinema oriental clássico.
O roteiro essencialmente fabulesco carece de um maior desenvolvimento psicológico dos personagens principais, estruturalmente recorrendo a flashbacks como forma de preencher algumas lacunas de acontecimentos, mas sem se aprofundar na forma como os mesmos afetam as pessoas envolvidas, um mundo interno que fica aberto a interpretações.
Longe de ser um problema, esta postura narrativa reforça o real elemento importante para Mizoguchi, a mensagem que emoldura a belíssima sequência em que o filho visita o túmulo do pai, um governador que foi duramente punido por tratar com humanidade os camponeses da região.
A necessidade de ser misericordioso, ainda que o sistema te conduza a agir de forma contrária, o que o falecido deixou como único legado para os filhos, lição preciosa, encontra ressonância na reação do povo do local, que, movido pela gratidão, faz questão de cuidar das flores que embelezam e dignificam o altar de sua memória.
É neste momento que o jovem Zushio compreende plenamente que o status social de prestígio que alcançou não tem valor algum quando comparado ao respeito que se conquista de pés descalços e caráter ereto, por ações corretas sem intenção de reconhecimento, o que o faz renunciar o cargo sem pensar duas vezes após cumprir seu objetivo, a libertação dos escravos do Intendente Sansho.
A doce irmã, Anju, que sacrificou sua vida para que ele pudesse ter uma chance de redenção, acaba se unindo ao lamento da mãe, representada na trilha sonora como a flauta renitente que clama pelo reencontro, não tanto o físico de mãe e filho, mas o reencontro existencial do rapaz com valores nobres de sua infância, virtude que ele, por inclemência do destino, chegou a renegar.
Mais do que uma obra-prima na filmografia de seu cineasta, este filme é um patrimônio inestimável da história do cinema mundial.
* O filme não está nas plataformas de streaming, mas pode ser encontrado em DVD e, claro, garimpando na internet.
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