Milagre Azul (Blue Miracle – 2021)
Um grupo de crianças órfãs correm o risco de ficar sem um lugar para morar quando sua instituição é ameaçada de fechar por falta de verba. Então, elas e o diretor se juntam a um rabugento marinheiro para entrar em uma competição de pesca. Se ganharem, podem usar o prêmio para salvar o orfanato. Baseado na incrível história real de um orfanato mexicano que lutou para sobreviver após o furacão Odile em 2014.
O tema da nova produção do roteirista/diretor cubano-americano Julio Quintana, corroteirizada por Chris Dowling, é terapêutico nos tempos atuais de valores tão invertidos, qualquer obra artística que ofereça uma mensagem inspiradora, bonita, otimista, que celebre o potencial humano para o bem, já merece alguns pontos.
É claro que ela já está sendo apedrejada por muitos veículos, afinal, defende que roubar é errado e injustificável, que ter uma religião é algo positivo e, claro, não há espaço para vitimismo, todos os personagens atravessaram um inferno pessoal e seguem lutando com dignidade pelo lugar ao sol.
A trama acerta logo de início, apresentando o público ao gentil Omar (Jimmy Gonzales), acordado de um pesadelo no meio da noite, sinalizando um doloroso processo de culpa, com o aviso de que uma das crianças havia fugido novamente, algo que o faz adentrar o submundo perigoso das ruas para garantir a segurança do pequeno, literalmente desviando de um tiroteio, uma introdução sensorialmente muito eficiente, antes mesmo do título aparecer na tela, já compramos emocionalmente o coração do filme e entendemos plenamente o que move internamente aquele homem em sua missão de vida, compartilhada com a esposa Becca (Fernanda Urrejola).
Quando somos apresentados ao capitão Wade (Dennis Quaid), ele está expulsando um possível cliente de seu barco pelo simples fato dele ter demonstrado interesse em trapacear, subornando o profissional para garantir que ele, de um jeito ou de outro, consiga ao final exibir a pesca mais difícil, uma clara crítica comportamental direcionada à exibição de virtude como obrigação social, mais atual, impossível!
O destino logo une estas duas forças da natureza, Wade e Omar, há tridimensionalidade em suas personalidades, o desenvolvimento na relação soa crível, da animosidade inicial ao respeito mútuo, os objetivos diferentes eventualmente se tocam em uma sequência tensa, quando uma decisão importante precisa ser tomada em questão de segundos, simbolizando o conflito entre o sonho como compensação ilusória e a aceitação da realidade.
É bonito que, próximo do fim, o roteiro evidencie que a nobreza de atitude possa nascer do sincero arrependimento por erros cometidos, estabelecendo que o caráter é moldado, esculpido ao longo da jornada, elemento enriquecedor na atual era dos estúpidos “cancelamentos” midiáticos. O tom é mantido leve, com alívios cômicos, quase sempre envolvendo as crianças, mas estes momentos em que os diálogos revelam informações sobre os percalços no caminho engrandecem o resultado.
“Milagre Azul” é uma excelente opção para reunir a família na frente da televisão, uma pérola que não merece ficar escondida na plataforma de streaming.
Cotação:
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