Oxigênio (Oxygène – 2021)
Após acordar e perceber que está presa em uma câmara criogênica, Liz (Mélanie Laurent) precisa lembrar quem ela é antes que o oxigênio acabe.
O diretor francês Alexandre Aja pode passar despercebido por boa parte do público que dará uma chance ao seu novo projeto, mas é um velho conhecido dos fãs mais dedicados de terror, ele alcançou fama internacional em 2003, com “Alta Tensão”, pioneiro do movimento New French Extremity. Com “Oxigênio”, ele abandona a zona de conforto da violência grotesca, demonstrando que é capaz de prender a atenção do público sem qualquer facilitador estético, agora, trabalhando na seara da ficção científica.
O conceito, por si só, já me atraiu, a ideia do espaço cênico reduzido é desafiadora, remete à pérolas como “12 Homens e Uma Sentença”, “Janela Indiscreta”, “Cubo”, “Por Um Fio”, e, no cinema mais recente, “Enterrado Vivo”, “Até o Fim”, “Clash” e “O Quarto de Jack”. O roteiro da estreante canadense Christie LeBlanc insere eventuais pistas, mas inteligentemente respeita a experiência do espectador, que realmente só começa a entender o mistério nos últimos 30 minutos. A entrega da bela Mélanie Laurent é essencial no resultado positivo, ela, literalmente, carrega o filme sozinha, com a câmera sempre próxima de seu rosto, tornando cada sutil movimento muscular importante no desenvolvimento da personagem, a incógnita a ser solucionada na interação com MILO, a inteligência artificial da câmara.
Qualquer informação é spoiler, logo, ressalto que, no aspecto técnico, o mérito maior da obra é manter a tensão do início ao fim, o senso de urgência é latente, sem dar espaço para o tédio, utilizando o necessário recurso do flashback de forma esperta, sempre adicionando camadas relevantes para a interpretação da mensagem principal da trama.
OS PARÁGRAFOS ABAIXO TERÃO SPOILERS (RECOMENDO QUE SEJAM LIDOS APÓS A SESSÃO)
A cena final, na minha interpretação, revela a projeção mental confortável da personagem (um clone) ao reconhecer o fim próximo, uma mentira apaziguadora, feliz, evidenciando que até mesmo um construto orgânico é capaz de produzir uma realidade subjetiva como forma de minimizar o medo do desconhecido.
É perturbador quando compreendemos que a voz feminina envelhecida que escutamos clandestinamente ajudando a protagonista, eventualmente interceptada por figuras de autoridade, gesto piedoso, trata-se da própria matriz, a Elizabeth original, talvez, reconhecendo afinal na transgressão o erro moral cometido, a ciência brincar de Deus. A mensagem menos óbvia é a mais poderosa, aquilo que se entranha na mente enquanto o roteiro nos distrai com o suspense da contagem regressiva de oxigênio, refletindo (inconscientemente ou não) o zeitgeist mundial atual, não há esperança de salvação para algo que é fundamentado na mentira.
FIM DOS SPOILERS
O filme é muito competente naquilo que se propõe, não é particularmente inovador, nem precisava ser, suscita boas (e inesperadas) reflexões existencialistas e, por conseguinte, ganha pontos em revisão.
Cotação:
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