Nosso Amor de Ontem (The Way We Were – 1973)
Os opostos se atraem quando, durante a época de faculdade, Katie Morosky (Barbra Streisand), uma menina ativista de esquerda, conhece Hubbell Gardiner (Robert Redford), um rapaz que vive a vida intensamente. Anos mais tarde, no despertar da Segunda Guerra Mundial, eles se encontram novamente e, independente de suas diferenças, se casam. Hubbell que ser roteirista e o dois se mudam para a Califórnia, apesar da oposição de Katie. Mas o ativismo da esposa pode colocar em risco a reputação do escritor.
É muito interessante como a nossa percepção de uma obra artística muda com o amadurecimento. Quando vi este filme pela primeira vez, em VHS alugado na “RG Vídeo”, do amigo Ricardo, eu estava no ginásio, lembro que fiquei emocionado com a subtrama da resistência ideológica da personagem, sendo adolescente, aquele discurso revolucionário compreensivelmente tocava o coração.
Quando revi mais velho, com mais livros na bagagem cultural, inclusive “O Capital”, de Karl Marx, tendo constatado que ele era, na mais gentil das hipóteses, um louco de amarrar com corrente, a minha percepção foi totalmente diferente, a emoção brotou da mesma forma, mas como fruto de uma análise mais lúcida sobre o conflito do casal, vivido por Barbra Streisand e Robert Redford.
Há graves problemas, a mão pesada demais na direção de Pollack (e, por conseguinte, uma abordagem desnecessariamente fria), uma montagem truncada em vários momentos, algo que se reflete no ritmo, que se torna bastante lento no segundo ato, mas o todo é honesto e elegante, o carisma da dupla transmite credibilidade na relação complicada que se desenvolve através dos anos, e, claro, a bela trilha sonora composta por Marvin Hamlisch capta com exatidão o senso de nostalgia que conduz a trama.
O roteiro, escrito por Arthur Laurents, adaptando seu próprio romance homônimo, exibe nas entrelinhas uma mensagem antagônica àquela que parece defender. Talvez seja por isto que o filme foi jogado para baixo do tapete nas últimas décadas.
Ao final, quando vemos Hubbell seguindo com sua vida, feliz, com uma nova parceira, enquanto Katie ainda se mantém presa às correntes da militância política, amargurada, entregando panfletos na rua, o pensamento que brota na mente de qualquer adulto psicologicamente maduro é similar ao expressado verbalmente pelo protagonista na cena mais acalorada: apesar dela querer acreditar, por puro vitimismo (elemento sintomático que evidencia uma das razões de ter sido arregimentada cedo como massa de manobra pela ideologia comunista), que não consegue conviver com ninguém porque é feia ou inadequada, na realidade, o que a torna insuportável é sua forma de lidar com a vida.
O seu abraço apertado na infantilizada utopia marxista cegou seu raciocínio para o que realmente importa na experiência breve da existência, ela deixou passar todas as oportunidades de crescimento (inclusive profissional), prejudicando até a carreira do homem que amava (motivo da separação definitiva), por uma projeção ilusória de virtude que esconde profunda insegurança e parcela considerável de culpa.
Hubbell é mostrado desde o início como alguém fisicamente ativo, esportista, festivo, hábil com as palavras, contrastando bastante com Katie, que esbraveja palavras de ordem rasas em palanques, mas, no íntimo de sua rotina pessoal, parece não conseguir dar um passo sem tropeçar nos próprios pés, o clássico caso do estudante que quer publicamente mudar o mundo, mas não arruma nem o próprio quarto.
“Nosso Amor de Ontem” é agridoce, imperfeito, mas merece ser redescoberto.
* O filme não está nas plataformas de streaming, mas você encontra em DVD e, claro, garimpando na internet.
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Gostei muito do que escreveu, não assisti o filme ainda, mas acho que é bem comum esses desajustes, me parece que ela não foi feliz nas escolhas que fez e que as únicas alegrias estão no passado.