O Dia da Desforra (La Resa dei Conti – 1966)
John “Colorado” Corbett, um justiceiro com aspirações políticas, persegue um atirador de facas mexicano.
O diretor Sergio Sollima aceitou uma sugestão de Sergio Leone que modificou radicalmente o desfecho da história original, escrita por Franco Solinas e Fernando Morandi, trocando a punição injusta do carismático personagem de Tomas Milian pelo reconhecimento de sua inocência e a união com o implacável caçador de recompensas Corbett, vivido por Lee Van Cleef. O engraçado é que não dá pra imaginar o filme sem esses emocionantes dez minutos finais.
A intenção de Sollima era seguir caminho inverso ao do frio homem sem nome dos projetos de Leone, dando voz ao marginalizado Cuchillo, cuja atuação me remete ao personagem de Toshiro Mifune em “Os Sete Samurais”, um mexicano pobre e explorado pelo sistema dos grandes donos de terra, que, numa boa simbologia, opta revidar com facas e atiradeiras, o que conduz a um dos duelos mais criativos do gênero.
E perceba como, neste duelo, a forma como Cuchillo estende os braços salienta a imagem da crucificação cristã. Perceba também a beleza do alinhamento das balas na tora de madeira, logo na primeira sequência do filme, pouco antes do confronto entre Corbett e três saqueadores.
Na direção de arte de Carlo Simi, detalhe que fica mais aparente em revisão, a sugestão de que existe um interesse político por trás das ações do homem da lei é evidenciado em seu figurino elegante. Dá até para dizer que, com sua temática libertária e humanista, o roteiro é um precursor dos projetos norte-americanos da contracultura.
Toques sutis como estes, além da poderosa trilha sonora de Ennio Morricone, engrandecem a obra para além de sua importância em seu gênero, “O Dia da Desforra” transcende esta limitação, não se trata apenas do melhor filme de Sollima, como também entra facilmente em minha lista de melhores filmes da década de 60.
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Concordo totalmente com você Caruso. O melhor filme de Sollima e um dos melhores westerns de todos os tempos. Quando assisti a primeira vez na televisão a cena das balas alinhadas estava cortada, assim como outras mais a frente. A falta dessa parte e outras faz muita diferença no filme. No dvd com a edição restaurada que eu comprei tem tudo. A história se desenrola magistralmente com a elegância da fotografia de Carlo Carlini e a beleza da música de E. Morricone . O final é emoção e arrepio puro com a voz da soprano, que se não me engano é Edda del Orso e a diversidade de instrumentos usados pelo maestro. Um raro balé cinematográfico dos atores mesclado contrastando com a paisagem. Um filme lido.
Corrigindo o final do comentário: ...Um filme lindo.