Desejo de Matar 2 (Death Wish 2 – 1982)
Arquiteto (Charles Bronson) marcado pela violência tenta recomeçar a vida em Los Angeles, mas a sua cozinheira (Silvana Gallardo) é eliminada por marginais e sua filha (Robin Sherwood), já traumatizada, sofre mais um abuso.
O segundo projeto da franquia marcou minha infância, a memória afetiva me conduz diretamente à fita VHS do meu pai, gravada de sessão televisiva (com vários cortes nas sequências mais violentas), que eu revia frequentemente após terminar os deveres de casa da escola. Eu escutava a excelente trilha sonora, composta por Jimmy Page, membro do Led Zeppelin, em maravilhoso vinil, como parte da preparação mental no estudo para as provas.
Sim, felizmente a minha geração foi criada sem frescura, os pais ensinavam desde cedo a garotada a discernir realidade e fantasia, algo fundamental no processo cognitivo de amadurecimento emocional e psicológico.
Os heróis dos quadrinhos lidavam com problemas sérios como alcoolismo e desemprego, brincávamos na rua de bandido e mocinho, com revólveres de plástico, e, principalmente, aprendíamos neste processo lúdico que o crime, além de ser injustificável, não compensava, e que lugar de bandido era na cadeia, jamais sendo incensado como “vítima da sociedade”.
Charles Bronson, apesar de ter se estabelecido na indústria décadas antes, graças às reprises, acabou se tornando um dos heróis da geração que cresceu nos anos 80 e 90.
“Desejo de Matar 2” opta por ser mais direto que o anterior, acerta ao apostar na mitificação do protagonista, que chega a monitorar o tráfego de rádio da polícia buscando os novos alvos, não apenas por seus atos na cidade, mas, principalmente, por aquilo que ele representa como elemento inspirador.
Sim, você não leu errado. Não entre na conversa boba dos titereiros do caos, a questão é de puro raciocínio lógico, a demonização daquele que pune criminosos serve apenas aos que se beneficiam (direta ou indiretamente) do crime. É claro que a força policial, aos olhos dos agentes do mal, será sempre “opressora”, “tóxica” ou qualquer outro clichê tolo que inventam para adestrar a massa.
Produzida pelo estúdio Cannon, com o retorno do diretor do original (por insistência de Bronson), a trama trabalha com pulso firme a mensagem principal da impunidade no sistema de reabilitação, facilmente corruptível, utilizando o cabeludo vilão Nirvana (Thomas F. Duffy) como símbolo. A compreensão de que o clima de insegurança age na sociedade como um câncer maligno, com o medo se alastrando, mantendo os bons calados e a escória livre.
Nirvana sorri durante o julgamento, pois sabe que tudo já está arranjado nos bastidores, não importa quantas vidas ele tenha eliminado brutalmente, o seu caso será tratado como uma estatística, ele será diagnosticado como “mentalmente instável”, incapaz de se responsabilizar por seus atos. A máquina agradece, os advogados com os bolsos cheios também, os únicos prejudicados no esquema são os familiares das vítimas.
Kersey (Bronson) obviamente encontra uma solução rápida e “chocante” para a situação, provocando a catarse que mantinha as salas de cinema lotadas, na época em que o público agia, pensava e sentia como adulto, antes da intensificação da infantilização cultural.
Não permita que esta pérola seja “cancelada”, apresente-a aos jovens, rejeite a inversão de valores.
* Você encontra o filme em DVD e, claro, garimpando na internet.
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