Desejo de Matar (Death Wish – 1974)
Criminosos invadem a casa do arquiteto Paul Kersey (Charles Bronson), eliminam brutalmente sua esposa e abusam de sua filha, deixando-a em coma. Kersey, então, decide fazer justiça com as próprias mãos não só contra os culpados, mas também outros malfeitores.
Eu lembro bem do que o pai de um amigo, na adolescência, comentou sobre este filme, algo que considerei bizarro à época, mas, hoje em dia, provou-se profético: “nós vamos viver para ver, os criminosos julgarão os honestos, o mal será vitimizado e o bem perseguido”. O papo se desenvolveu a partir do que já começava a ser discutido, a deslegitimização de qualquer filme com viés ideológico de direita e a excessiva celebração na indústria cultural da inversão de valores.
Obras como esta, que eram transmitidas com frequência nas emissoras de televisão na década de 80, começavam a ser jogadas para baixo do tapete, o sistema (por interesse próprio) instigava o desarmamento, e, mais que isto, a demonização do direito à legítima defesa, os brinquedos infantis que representavam símbolos de coragem, como “Comandos em Ação”, eram substituídos pelo enaltecimento da covardia, a potencialização da insegurança, em suma, preparava-se psicologicamente o terreno para o adestramento coletivo objetivando o controle ditatorial sem possibilidade de revide. Hoje podemos enxergar claramente as lastimáveis consequências deste planejamento de décadas.
Paul (Bronson) é um homem comum, arquiteto, contrário às armas de fogo, que é levado a aprender, de forma prática, como havia vivido uma mentira alimentada pela imprensa, pelo sistema como um todo.
Ao constatar que a impunidade é um elemento fundamental na engrenagem, ele luta para destravar em sua psique o instinto primitivo da autopreservação, ele entende que não deve enxergar no Estado uma babá superprotetora, nem delegar à força policial a responsabilidade da suprema proteção, se assim fosse, não haveria necessidade de todo condomínio e estabelecimento comercial contar com extintores de incêndio, pois bastaria, ao primeiro sinal de fogo, telefonar para os bombeiros.
A direção de Michael Winner, inteligentemente captando a força alegórica do tema, injeta em diversos momentos, com sons diegéticos aparentemente irrelevantes, frases que enfatizam a mensagem principal.
A imprensa, manipulando com discursos conformistas, apelando para o indivíduo nunca reagir, o genro bobão, incapaz de tomar qualquer atitude diante do ocorrido com a esposa, afirmando para Paul que não confrontar aquele que pratica um ato de violência é sinal de civilidade, fracos e tolos, peças indispensáveis na construção de qualquer sistema que oprima seu povo, mantendo-o na miséria controlada, enquanto seus líderes se refestelam na riqueza. Se duvida, estude pelas fontes independentes o que está ocorrendo hoje em Cuba.
A catarse poderosa que o filme entrega nas sequências em que Paul elimina a escória criminosa reflete no público o que o protagonista causa na sociedade em que habita, inspirando na massa a coragem necessária para viver, não apenas o ato de se manter respirando enquanto aguarda o inevitável fim, o brio precioso que conduziu o homem a se superar em cada estágio da evolução, a liberdade básica com seus direitos e deveres.
“Desejo de Matar” segue sensorialmente eficiente e, mais do que nunca, atual!
Trilha sonora composta por Herbie Hancock:
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