Dublê de Corpo (Body Double – 1984)
Depois de perder um papel e a namorada, o ator aspirante Jake Scully (Craig Wasson) finalmente pode respirar quando Sam Bouchard (Gregg Henry) oferece um bico cuidando de sua casa em Hollywood Hills. Pelo telescópio da linda casa, ele vê uma bela mulher (Deborah Shelton) dançando na janela. Mas, ao testemunhar um crime, ele se envolve no mundo da indústria de filmes adultos em busca de respostas, com a atriz Holly Body (Melanie Griffith) como guia.
Os problemas com os censores durante a produção de “Scarface” injetaram no realizador o impulso do revide, ele afirmou: “Eu vou dar tudo que eles odeiam e em quantidade maior do que eles jamais viram. Eles acham que este filme foi violento? Eles acham que meus outros projetos eram eróticos? Espere até que eles assistam a Dublê de Corpo.”
Vale destacar que ele cumpriu a promessa e, claramente, divertiu-se horrores neste processo.
É comum ler muitos colegas críticos que defendem que esta pérola é um dos trabalhos mais fracos do diretor, mas discordo enfaticamente, com as constantes revisões, ela só melhora, a sua despretensão (coerente à proposta de filme B) me fascina, não é apenas uma divertida e competente homenagem às convenções hitchcockianas (principalmente “Janela Indiscreta” e “Um Corpo Que Cai”), “Dublê de Corpo”, com sua engenhosa estrutura metalinguística, utilizando a mixoscopia como leitmotiv para explorar o farsesco nas relações humanas e na sociedade, consegue incitar reflexões que suas obras mais famosas e intelectualmente ambiciosas não alcançam, definitivamente merece ser redescoberta.
O equívoco comum é analisar a trama de forma fria, não há nenhuma intenção de ser levada a sério neste sentido, os mistérios são conscientemente tolos (o filme não se esforça nem em disfarçar que o rosto do enigmático vilão é uma maquiagem prostética), previsíveis, o roteiro brinca o tempo todo com o público, basta ver a sequência em que Jake, após ser apresentado à bela vizinha, através do telescópio, vale salientar, luta contra sua curiosidade diversas vezes, oferecendo aperitivos visuais para o deleite do espectador, como se o próprio diretor desejasse provar que, apesar de ser algo moralmente errado, nós somos instintivamente levados a empurrar os olhos do personagem na direção da lente.
O rigor estilístico do mestre do suspense pode até parecer presente nos ingredientes iniciais, mas é hilariamente abandonado quando entra em cena o submundo dos filmes adultos, momento em que De Palma aprofunda sem elegância alguma sua visão sobre o lado mais sombrio da natureza humana.
Trilha sonora composta por Pino Donaggio:
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Muito boas suas críticas e análises dos filmes, suas observações são bem pertinentes. Quase sempre acontece de eu já ter visto o filme citado por você.