Luar do Sertão (1971)
Numa cidadezinha do interior paulista, todos vivem felizes: Tinoco e sua noiva Joana, Pirulito e Nhá Barbina. Um dia chegam os homens encarregados de abrir uma estrada de ferro e, com eles, os aborrecimentos. Paulo, um dos engenheiros, tenta afastar Joana de Tinoco. Este é acusado do roubo do dinheiro dos operários e vai preso. Tonico pressiona o delegado a investigar o caso, para que Tinoco prove sua inocência.
Refilmagem do clássico homônimo de 1949, de Mario Civelli e Tito Batini, inspirado na toada composta por Catulo da Paixão Cearense e João Pernambuco, uma das músicas brasileiras mais gravadas de todos os tempos, “Luar do Sertão” é o melhor trabalho da dupla sertaneja Tonico e Tinoco no cinema.
Os problemas técnicos são muitos, mas o que considero importante resgatar é a paixão que movia o projeto, o sangue nos olhos, uma página da nossa história cultural que foi desprezada à época pelos pseudointelectuais da imprensa, que odiavam (por inveja, profunda insegurança) todo produto artístico que conquistava naturalmente o carinho popular.
Vale destacar que nada mudou neste cenário, ainda hoje, você encontra com facilidade membros desta asquerosa “elite intelectual” afirmando coisas como: “música sertaneja é um lixo.”
Se o jovem cinéfilo buscar a aceitação acadêmica, vai sair da faculdade adestrado a idolatrar as bobagens umbilicais psicotrópicas do Cinema Novo, já filiado à algum partido político de esquerda, e, claro, não apenas desprezando, mais que isto, demonizando as comédias musicais da Atlântida, Herbert Richers, o período intensamente criativo da Vera Cruz, Cinédia (inicialmente Cinearte), porque, nas palavras de seus professores, o cinema de gênero não passa de “cópia do capitalismo imperialista ianque.”
Aquele que busca o caminho autodidata, livre das amarras ideológicas/políticas, entende a importância do sertanejo na sétima arte ao constatar que, muito antes do Jeca do grande Mazzaropi, ele já se fazia presente no primeiro filme sonoro brasileiro, “Acabaram-se os Otários”, de Luiz de Barros, lançado em 1929, em que Paraguassu canta “Triste Caboclo”.
E, vou mais além, a primeira comédia brasileira, ainda na era silenciosa, chamava-se “Nhô Anastácio Chegou de Viagem” (1908), de Júlio Ferrez, protagonizada pelo cantor caipira José Gonçalves Leonardo. Quer mais? Será que esta garotada que sai com o canudo de enfeite sabe que a dupla sertaneja Alvarenga e Ranchinho participou de 20 filmes, entre eles, “Tererê Não Resolve” (1938) e “Pif-Paf” (1945)?
Tonico (João Salvador Perez) e Tinoco (José Perez) marcaram forte presença nas salas de cinema por várias décadas, o lucro nas bilheterias era certo, do original “Luar do Sertão” (1949), passando por “Obrigado a Matar” (1964), de Eduardo Llorente, e “A Marca da Ferradura” (1970), de Nelson Teixeira Mendes, entre outros, mas estas obras ficaram esquecidas na época do VHS, nunca foram lançadas em DVD. A sorte dos cinéfilos dedicados é que hoje elas são facilmente encontradas na internet.
O filme merece destaque por contar com o resgate de vários sucessos da dupla, como “Moreninha Linda” e “Pé de Ipê”, a trama é simples, o aspecto cômico circense se garante nas figuras de Pirolito (Antonio Malhone) e Nhá Barbina (Conceição Joana da Fonseca).
O elemento nostálgico, perceptível na entrega lenta e cadenciada da dupla na canção-título, abruptamente cortada nos créditos iniciais pela montagem que insere uma barulhenta retroescavadeira construindo uma rodovia, estabelecendo o óbvio contraste entre o bucólico sertão e a caótica cidade grande. O enquadramento baixo agiganta a máquina, uma ameaça tangível.
O conflito é retratado pelo roteiro com a pureza do teatro circense da década de 40, os personagens são caricaturas, a mocinha, o padre, o bandido, a disputa romântica pelo coração de Joana entre o engenheiro galã da cidade e Tinoco, o cantor sertanejo, tudo trabalhado com muita leveza.
Este estilo, no início da década de 70, já era considerado antiquado, fora de moda, o que fez com que esta produção não fizesse o mesmo sucesso das anteriores, mas a arte é atemporal, analisada hoje, emociona como uma linda viagem no tempo para um período mais gentil.
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