Pintando o Sete (1959)
Catito (Oscarito), um palhaço de circo, para fugir de um casamento forçado numa cidade do interior, esconde-se no porta malas do carro do Dr. Cláudio (Cyll Farney) e vai parar no Rio de Janeiro. Descoberto, acaba se hospedando na casa do Dr. Cláudio, sob uma única condição: passar-se por Picanssô, um pintor famoso que vem da Europa a convite de Sílvia (Ilka Soares), noiva do dono da casa, uma grã-fina sempre em busca de projeção social.
” – Eu sou Catito, expressão viva da arte.
– Você conhece Shakespeare?
– De infância.”
A trama desta pérola crepuscular da Atlântida, dirigida por Carlos Manga, é, como muitas comédias brasileiras do período, alicerçada em troca de identidades, simbolicamente (e de forma inconsciente) representando uma indústria que lutava para firmar a própria imagem, absorvendo elementos da fórmula de sucesso hollywoodiana.
O palhaço vivido por Oscarito (já farsesco por profissão) utiliza uma peruca e um bigode falso para dar vida à caricatura do pintor, mistura de Salvador Dalí e Pablo Picasso, mas não é o único que se utiliza do jogo de aparências para sobreviver, a jovem namorada do Dr. Cláudio, Sílvia, implora pela presença de convidados ilustres nas reuniões familiares, preocupada em impressionar outrem e se destacar na sociedade.
O toque genial é, mais para frente, mostrar as madames endinheiradas, exatamente aquelas que Sílvia tanto desejava emular, sendo facilmente enganadas, abraçando sem pensar duas vezes as pinturas do amador palhaço como inegáveis obras de arte contemporâneas. Qualquer rabisco em uma tela pode se tornar ouro, caso o autor tenha respeitabilidade e haja interesse no apreciador em se mostrar mais inteligente, afinal, a roupa do rei não precisa ser necessariamente vista para ser aplaudida.
” – O nome dessa casa é em inglês, o cardápio é em francês, o uísque é escocês, e os cigarros, americanos. Vocês não tem nada brasileiro por aí não, hein?”
Carlos Manga brinca na cena de Oscarito (disfarçado como pintor famoso) no restaurante chique com as frequentes críticas dos cinemanovistas da época às chanchadas, colocando na boca dele, um farsante, a “voz” de seus colegas que arrotavam autoralidade criativa enquanto surrupiavam o estilo dos italianos e franceses.
Quem enxerga algo de negativo na apropriação cultural é medíocre, a arte se enriquece com a pluralidade, as comédias populares incomodavam os cineastas ressentidos do “Cinema Novo” porque eram AMADAS pelo povo, lotavam as salas com o marketing “boca a boca”, enquanto os esforços umbilicais dos pseudointelectuais colocavam todos para cochilar nas poltronas.
“Pintando o Sete” traz um dos momentos mais inspirados do inesquecível Oscarito e merece ser redescoberto pela nova geração.
Eu facilitei o seu garimpo cultural, selecionando os melhores filmes dentre aqueles títulos que entraram…
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Olá Octavio
Estou descobrindo o Oscarito aos poucos e estou adorando. Muito divertida e simples essa época do nosso cinema.
Esse filme é muito engraçado e genial.
Um abraço!