Críticas

“O Gaúcho de Passo Fundo” (1978), de Pereira Dias, com TEIXEIRINHA

O Gaúcho de Passo Fundo (1978)

O bando de Leão da Serra decide assaltar a fazenda de seu João para roubar os ganhos da excelente negociante (e sanfoneira) Mary Terezinha. Quando atacam sua casa, incendeiam tudo e disparam em quem aparece. Mas Teixeirinha, de férias em Passo Fundo, administrando suas terras, aparece por ali e salva a vida da garota, mas ficam cercados pelo bando. Sozinho na vigia e ainda cuidando dos ferimentos dela, conseguirá Teixeira salvar a vida dos dois?

Quando alguém na imprensa puxar o papo vitimista sobre o cinema brasileiro, sinalizando hipócrita preocupação com o legado cultural, a valorização da memória, pergunte porque ninguém da área escreve críticas sobre os filmes na carreira do saudoso músico gaúcho Vitor Mateus Teixeira, o Teixeirinha.

Não há nada na internet, provavelmente os jovens acadêmicos que saem com seus diplomas idolatrando as bobagens umbilicais do Cinema Novo nem sabem da existência destas obras que foram extremamente populares. Eu me recordo que tentei, em 2009, preparar um especial com textos sobre estas produções, mas após a fraca recepção do público da época com a minha análise de “Coração de Luto”, praticamente nenhum acesso na publicação, enxerguei a raiz do problema: o processo consciente imediatista de destruição seletiva do passado.

“O Gaúcho de Passo Fundo” foi o sexto filme lançado pela “Teixeirinha Produções Artísticas”, criada em 1970, não foi uma das maiores bilheterias, mas, em revisão, mostra-se uma das melhores, mérito da direção competente de Pereira Dias. Um dos pontos mais bacanas na trama é que ela possibilita mostrar muito da tradição cultural gaúcha, como na longa sequência da artística dança dos facões. A música-tema composta por Teixeirinha, que também alcançou sucesso quando foi gravada pelo grande Sérgio Reis, resume bem o espírito da obra: “Me perguntaram se eu sou gaúcho, está na cara repare o meu jeito, sou do Rio Grande lá de Passo Fundo, trato todo mundo com muito respeito, mas se alguém me pisar no pala, o meu revólver fala e o bochincho está feito.” Na trilha sonora, destaco também a bonita interpretação de “Recordações de Ypacaraí”, versão do clássico paraguaio de Demetrio Ortiz.

O primeiro ato é tranquilo, fascinante mais pela paisagem que apresenta, até que, por volta dos 30 minutos, o ataque do bando à fazenda ocorre, a cena de resgate da jovem (vale ressaltar, resgatada do fogo, traçando óbvio paralelo com o falecimento da mãe do cantor, na vida real) é trabalhada com bom senso de ritmo, o roteiro então engata o conflito melodramático quando o herói descobre a identidade dela, apesar do protagonista inegavelmente não ser um ator de muitos recursos, o seu coração fala mais alto, ele entrega o necessário para que o público invista emocionalmente na história.

Há muitos compreensíveis problemas técnicos e estruturais, mas são compensados pela coragem de fazer cinema de gênero na época em que a imprensa detonava qualquer artista popular que não se curvasse à militância socialista. Os jornalistas tentaram depreciar o trabalho de Teixeirinha, chegaram ao cúmulo de debochar da canção que ele fez em homenagem à mãe, passaram a chamá-la de “Churrasquinho de Mãe”, mas é dever de todo brasileiro inteligente fazer justiça ao seu legado.

* Você encontra o filme facilmente garimpando na internet.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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  • Recordo-me da minha infância ouvir nas rádios isto é, em especial em programas com musica dedicada a familiares, a aniversários e outros eventos corria muita música do Teixeirinha e Teresinha, que mais tarde passou e repassou "Coração de Luto" nas rádios entre outros temas, depois olhando à sua história com uma infância dramática e que foi um Gaúcho do Rio Grande do Sul, mais conhecido Teixeirinha. Chegou a passar um filme no cinema, embora não tivesse assistido.
    Imagine isto nos anos 60 e 70`s.
    Embora não seja admirador do Teixeirinha, mas reconheço que foi um grande cantor de música gaúcha, como referi na minha infância era da badalada e com aqueles desafios que até arrepiava :).
    Muito obrigado por reavivar memórias agradáveis.

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