Quelé do Pajeú (1969)
Após saber que sua irmã (Elizângela, em seu primeiro papel de destaque) foi violentada por um desconhecido, o vaqueiro Clemente (Tarcísio Meira), mais conhecido como Quelé, só vê uma saída: partir atrás do bandido e vingar a moça.
Antes que a terrível cultura do “cancelamento” apague de forma seletiva a memória cultural brasileira, espero que a nova geração esbarre nesta pérola rara, que ficou perdida por mais de 40 anos, encontrada em 2016 na Europa, legendada em italiano, um competente faroeste ambientado no sertão nordestino, dirigido pelo grande Anselmo Duarte, baseado em obra de Lima Barreto e protagonizado por Tarcísio Meira, filmado em Salto de Itu.
Barreto, realizador do clássico “O Cangaceiro”, um homem de comportamento muito irascível, teve dificuldade de conseguir financiamento para a produção de “Quelé do Pajeú”, até que a ideia caiu nas mãos de Anselmo, que ainda aproveitava a merecida fama conquistada com sua Palma de Ouro por “O Pagador de Promessas”. Ele, apaixonado pelo material, pediu apenas algumas alterações na trama, que o autor, consciente da capacidade do colega, aceitou sem pensar duas vezes.
Quando o nome de Anselmo entrou na equação, não foi difícil conseguir patrocínio, vários bancos entraram de cabeça no projeto, até o colunista social Ibrahim Sued injetou umas verdinhas, verba que possibilitou a convocação de Tarcísio Meira, na época, galã disputado nas telenovelas, além de Jece Valadão (que vive o vilão Cesídio), a ítalo-brasileira Rossana Ghessa e a franco-brasileira Isabel Cristina (Guylène Magdalêne Anne Marie France Vercellino).
Na época, eclipsado pela imprensa militante em favorecimento do sonolento e umbilical “O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro”, de Glauber Rocha, este empolgante conto de vingança merece ser redescoberto. As cenas de ação, tecnicamente impecáveis em sua execução segura (não apenas nos tiroteios, destaco também a excelente coreografia no duelo entre Quelé e Cesídio), a forte presença em cena do carismático Tarcísio, a fotografia elegante de José Rosa, a invejável noção de ritmo, o senso narrativo lógico e melodramaticamente recompensador, além de um desfecho controverso e ousado, elementos que enraiveciam os cineastas mimados e tremendamente inseguros do Cinema Novo.
“Quelé do Pajeú” foi o primeiro filme brasileiro em 70mm e som estereofônico, o filme que o próprio Anselmo considerava o seu favorito.
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Filme incrível!
O vilão "conciente e honrado" dá um charme à mais ao filme!
Destaque, também, à personalidade de Lampião!
Me arrisco dizer que é uma "tragédia grega" brasileira!