Crisântemos Tardios (Zangiku Monogatari – 1939)
O filho adotivo de um ator renomado descobre que só é elogiado nos palcos e poupado das críticas por causa de seu pai.
FILMAÇO de Mizoguchi, um geido-mono (melodrama envolvendo cenário artístico) psicologicamente adulto, trata da importância da verdade como elemento transformador. É bonito que o roteiro minimize as insinuações de romance entre o ator e a empregada, uma jovem que conquista seu respeito por ser a única pessoa que o confronta com a necessidade de melhorar muito em seu ofício.
A amizade é forjada a partir de um despretensioso passeio noturno dos dois, com um enquadramento intimista que faz o trajeto parecer que está sendo feito em um hanamichi, a extensão do palco da tradição do teatro kabuki que é representado lindamente em algumas cenas. Há doçura na interação, desde a melancia compartilhada, passando pela reza silenciosa dela, até a preocupação com a ausência dela no trem. Em contraste com o peso da rejeição da sociedade com o relacionamento, essa doçura ganha ares de elegante rebeldia, no que, de fato, simboliza a revolução interna do rapaz.
Kikunosuke, motivado pelas críticas de Otoku, pelo interesse dela em proteger ele da decepção que inevitavelmente viria com a falsa ilusão de grandiosidade, decide se tornar um ator competente. Mas há um viés curioso no desfecho, o que pode explicar o apelo do filme na época com o Ministério da Educação: o ator acaba fazendo as pazes com o sistema conservador que prejudicou seu relacionamento com Otoku, essa sim, a grande heroína da história, que se sacrificou em diversos momentos e se manteve fiel às suas convicções até o fim.
Ele, mais do que o autoaprimoramento, buscava a aceitação profissional de outrem, reservando para a mulher que salvou sua vida uma discreta reverência, um agradecimento perdido entre tantos que oferta a uma multidão de estranhos em seu triunfal desfile de barco.
* Você encontra o filme em DVD e, claro, garimpando na internet.
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