Fahrenheit 451 (1966)
A trama se passa em uma sociedade do futuro que baniu todos os materiais de leitura, em que o trabalho dos bombeiros se torna manter as fogueiras a 451 graus: a temperatura que o papel queima. Um bombeiro (Oskar Werner) começa a repensar sua função ao conhecer uma jovem (Julie Christie) encantadora que adora livros.
Não está sendo um momento fácil para os lúcidos, além de todas as barbaridades diárias no esquema de engenharia social em escala global, uma manchete recente sobre escolas canadenses QUEIMANDO livros infantis, sem exagero, arrebenta com a inspiração de qualquer indivíduo minimamente inteligente. O motivo que eles estão dando não importa, balela nonsense, o ato de celebrar a incineração da cultura é, por si só, uma vergonha. Eu vivi para ver Asterix, Lucky Luke e Tintim sendo “cancelados”, triste sociedade.
Adquiram nos sebos o máximo possível de obras literárias, valorizem e preservem o passado, pois, neste ritmo, em breve, o mundo será “reiniciado”, a “nuvem” apagará seletivamente os materiais indesejados pelos titereiros do caos, textos serão reescritos, censurados, o futuro será uma página em branco aguardando as novas regras impostas pelos ditadores.
Que mundo terrível esta geração está deixando para seus filhos e netos. O processo de destruição acelerou, enquanto as massas seguem hipnotizadas com a farsa sanitária, logo, considero importante resgatar neste momento a competente adaptação cinematográfica da obra máxima de Ray Bradbury, dirigida pelo grande François Truffaut.
“Fahrenheit 451” foi o primeiro filme colorido do crítico/diretor francês, filmado na Inglaterra, único que não é falado em sua língua pátria. O roteiro capta muito bem a essência do livro original, lançado em 1953, uma reflexão poderosa sobre o autoritarismo. Já nos créditos iniciais, a opção pela narração dá o tom de estranheza. A paixão de Truffaut pela literatura enriquece o projeto, basta analisar a forma idílica como ele insere os homens-livros, bibliotecas orgânicas, a comunidade de pessoas apaixonadas pela palavra escrita que memorizavam as páginas, objetivando relançar os tomos após o fim da proibição.
Uma alteração curiosa na adaptação, rica em simbologia, Julie Christie vive dois personagens, lados opostos da mesma moeda: a esposa do bombeiro, Linda, uma mulher apática que se anestesia com pílulas e programas televisivos alienantes, e Clarisse, uma mulher vivaz e questionadora que incita reflexões importantes envolvendo seu trabalho. Outro aspecto digno de nota é a percepção, mérito da direção de arte e da fotografia de Nicolas Roeg, de que a realidade retratada não é futurista, mas sim, bastante atual, não há aquele usual deslumbramento visual da ficção científica.
Conservar é garantir que o passado será conhecido e estudado, queimar é garantir que os erros serão repetidos, pergunte aos judeus se eles querem que os livros sobre o regime alemão sejam apagados. A distopia artística empalidece hoje diante do que está sendo feito no mundo, não há palavra no dicionário que sintetize a maldade dominante, a vida perdeu o sentido neste frenesi revolucionário imediatista.
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