Críticas

“Volere Volare”, de Maurizio Nichetti e Guido Manuli

Volere Volare (1991)

Eu tenho a vívida lembrança de ter conhecido esta pérola numa exibição televisiva noturna no início dos anos 90, creio que na Bandeirantes, mas o que me interessava na ocasião era a frequente participação desinibida feminina e a ideia incrível de inserir técnicas de desenho animado neste contexto. Somente pude apreciar melhor a obra em revisão, alugada em VHS anos depois. E agora, na sessão para a preparação deste texto, já conhecendo a filmografia de Nichetti, constato que representa o equilíbrio perfeito entre estilo e conteúdo, o grande problema de seus filmes.

A ideia nasceu após o sucesso mundial de “Uma Cilada para Roger Rabbit”, a trama é insanamente pouco convencional, ele interpreta um tímido sonoplasta de desenhos animados, enquanto o irmão, seu sócio, prefere se encarregar das dublagens de produções de mau gosto, convocando mulheres maravilhosas para o trabalho que é realizado no melhor estilo “método de atuação de Lee Strasberg”. Angela Finocchiaro vive uma mulher da vida exótica que se encarrega de satisfazer teatralmente seus clientes, cada um mais doido que o outro.

A gradual transformação do sonoplasta em um cartoon, recurso que garante cenas hilárias, simboliza o medo dele diante da possibilidade de contato físico, conceito que cai como luva no tom absurdo do roteiro. Ao contrário de sua amiga ambiciosa, que prioriza clientes ricos, Martina (Finocchiaro) encara seu trabalho como uma missão socialmente relevante, já que permite que loucos extravasem nela sua psicopatia, em variados níveis de periculosidade, de forma inofensiva para a sociedade, elemento que a humaniza sobremaneira.

É fascinante a opção por fazer do tradicional final feliz um abraço sem concessões no surreal, com a divertida entrega dela às possibilidades românticas com o cartoon, ao invés do caminho óbvio narrativo da solução para o bizarro problema. Uma comédia que jamais seria lançada no tempo atual, escravo do asqueroso “politicamente correto”, um sopro de ar fresco em um gênero usualmente escravo da repetição.

  • Você consegue achar o filme garimpando na internet.
Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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