Duna (Dune – 2021)
Paul Atreides (Timothée Chalamet) é um jovem brilhante, dono de um destino além de sua compreensão. Ele deve viajar para o planeta mais perigoso do universo para garantir o futuro de seu povo.
Eu amo a obra original de Frank Herbert, sou apaixonado por ficção científica, tenho na coleção em várias edições, desde a primeira que passou por minhas mãos, da editora Nova Fronteira, que devorei na adolescência. De lá para cá, provavelmente reli o primeiro livro umas 4 vezes, não nutro o mesmo carinho pelas sequências.
Na época em que o formato DVD começou a ser divulgado, eu, antes mesmo de adquirir o aparelho, já havia comprado na banca de jornal o filme clássico de David Lynch, de 1984. Gostei com ressalvas da minissérie de 2001, com o William Hurt. Por muitos anos imaginei como seria a história contada pelo cérebro intensamente criativo do cineasta chileno Alejandro Jodorowsky, até que pude vislumbrar o projeto no documentário “Duna de Jodorowsky” (2013).
Dito isto, fiquei muito esperançoso quando soube que uma nova versão seria produzida, com um dos mais competentes diretores desta geração, Denis Villeneuve, principalmente quando foi divulgado que o roteiro se focaria na primeira (e superior, impecável) metade do livro.
“O medo mata a mente, o medo é a pequena morte que leva à aniquilação total.”
O timing do lançamento é precioso, uma cena sintetiza muito bem uma das mensagens mais fortes da obra, que reflete o esquema desumano e farsesco de engenharia social alicerçado em terrorismo psicológico que dominou o mundo, o teste em que o jovem Paul Atreides insere sua mão direita numa caixa, sendo levado a crer que sentirá tremenda dor. Se ele retirar a mão, ele é informado pela Reverenda Madre Gaius Helen Moriam (Charlotte Rampling) que será imediatamente envenenado por uma agulha que quase toca seu pescoço. Ao vencer seu medo, algo que existia apenas em sua mente, ele descobre que nada havia acontecido com sua mão. O momento é muito tenso nas páginas e Villeneuve consegue transpor brilhantemente a sua essência plena em simbolismo.
“Um grande homem não busca liderar, ele é convocado e responde ao chamado.”
O filme bebe visualmente da fonte dos épicos de David Lean, mas traz as digitais de Villeneuve em cada minuto, abraça o contemplativo, sem esquecer do entretenimento. É importante ressaltar que, apesar da complexa trama ser acessível ao público geral, aqueles já familiarizados com a obra provavelmente sairão mais satisfeitos com a experiência sensorial de imersão naquele universo, que, ponto fundamental, recebe na produção generoso tempo em sua meticulosa criação. A fotografia de Greig Fraser dá textura na exploração deste mundo novo, você compra cada detalhe e, mais que isto, se interessa em conhecer as especificidades inteligentemente insinuadas na direção de arte e no figurinos.
A trilha sonora de Hans Zimmer eficientemente ajuda nesta construção, felizmente saindo de sua zona de conforto como compositor. Ele, como apaixonado pelo livro original, perceptivelmente deixou o coração falar mais alto, transportando o espectador para a estranheza do desconhecido experimentando sons, utilizando instrumentos verdadeiramente inesperados, exóticos, firmando uma identidade sonora que provavelmente será importante no próximo filme.
A escalação do elenco é primorosa, destaco a entrega da bela sueca Rebecca Ferguson, vivendo Lady Jessica, a mãe do jovem herói messiânico, vivido por Timothée Chalamet, que injeta nuances de interpretação em momentos aparentemente irrelevantes, demonstrando maturidade emocional, além da segura presença cênica que torna Paul Atreides alguém crível e identificável, algo que ocorre facilmente na linguagem literária, mas um considerável desafio para qualquer ator.
“Duna” é uma adaptação extremamente fiel em letra e espírito, pode desagradar aqueles que, ignorando o material original, esperam uma aventura com bastante ação, em suma, um blockbuster genérico. Villeneuve, mais uma vez, prova que ainda há espaço no cinema mainstream para projetos direcionados ao público adulto.
Cotação:
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