No “Dica do DTC”, a nova seção do “Devo Tudo ao Cinema”, a intenção não é entregar uma longa análise crítica, algo que toma bastante tempo, mas sim, uma espécie de drops cultural, estimulando o seu garimpo (lembrando que só serão abordados filmes que você encontra com facilidade em DVD, streaming ou na internet). O formato permite que mais material seja produzido, já que os textos são curtos e despretensiosos.
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Estranho Encontro (1958)
Torturada mentalmente por um homem (Luigi Picchi) que sofre de neurose de guerra, Julia (Andrea Bayard) certa noite consegue fugir e é recolhida por um jovem que a oculta numa casa de campo pertencente a uma amiga (Lola Brah) a quem está preso por laços muito íntimos.
O lindo rosto de Andrea Bayard é hipnotizante, Walter Hugo Khouri sabia disto e abusou dos close-ups. Nesta pérola da produtora Vera Cruz, segundo trabalho do diretor, já demonstrando plena segurança em sua assinatura, a construção do suspense, alicerçado puramente na atmosfera, não deixa nada a dever aos projetos hollywoodianos do período.
A obra compensa o orçamento reduzido com firulas técnicas criativas, como na utilização frequente dos relógios em sobreposições na montagem, realçando a angústia da jovem, o tempo perdido, o conflito interno que a fez agir impulsivamente, fugindo de um relacionamento perturbador. Ela estava preparada para dar fim à própria vida, mas esbarrou na estrada com Marcos (Mário Sérgio), que, fascinado por sua figura, insiste em levá-la em segurança até o local em que está hospedado. Ela, frustrada por não ter conseguido estabilidade emocional, ele, humilhado por buscar estabilidade financeira com sua namorada endinheirada.
Vale destacar a presença marcante da russa Lola Brah, que vive uma personagem multifacetada, elemento importante, alguém capaz de silenciar a dor da alma com um inesperado gesto de amor. Lola, em relativo pouco tempo de cena, consegue compor um retrato que alterna o patético e a coragem, frieza e calor humano, complexidade de caráter que se sustenta literalmente até o último frame. A atriz recebeu o Prêmio Saci por este trabalho.
“Estranho Encontro” é simplesmente um dos melhores filmes brasileiros de todos os tempos, faz parte da minha lista, que você pode ler AQUI.
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