Ghostbusters – Mais Além (Ghostbusters – Afterlife – 2021)
Uma mãe solo e seus dois filhos se mudam para uma nova cidade e descobrem que têm uma conexão com os Caça-Fantasmas originais e o legado secreto de seu avô.
Eu vivi na infância o boom de “Os Caça-Fantasmas”, revia quase que diariamente o filme original em VHS gravado de sessão televisiva, com a dublagem espetacular do estúdio BKS, com Ézio Ramos (Venkman), Flávio Dias (Stantz), Jorge Barcellos (Spengler) e Antônio Moreno (Zeddemore), tinha os bonecos da Estrela, baseados no desenho animado, posso afirmar com segurança que é um dos meus filmes favoritos, daqueles que levo no coração, memorizei falas, por conseguinte, desprezo totalmente a bobagem lançada em 2016, considero um desrespeito com os fãs. Quando foi avisado que seria produzida uma nova obra, dirigida pelo filho do diretor do clássico, Ivan Reitman, fiquei curioso, esperançoso de que, pelo menos, conseguiria captar o tom da obra de 1984.
O original era corajoso, misturava comédia e terror, com cenas que ultrapassavam o limite do que era normalmente oferecido como entretenimento infantil, por exemplo, o sonho romântico de Ray, ou o momento em que a musa dos nerds da época, Sigourney Weaver, está sentada na poltrona de sua casa e é atacada por garras bestiais, com destaque para longas pernas à mostra em um vestido provocante. As aparições fantasmagóricas, com exceção do esverdeado Geleia, que é essencialmente caricatural, bebem da fonte dos filmes de horror, como os cães guardiões de Gozer e, logo no início, a senhora da biblioteca que parece saída diretamente do “Poltergeist” de Tobe Hooper. Os diálogos inteligentes são tão bons que parecem improvisados, tamanha a naturalidade com que brotam nas situações mais absurdas. O espectador se afeiçoa rapidamente a cada personagem. Eles são imperfeitos, trambiqueiros, desajeitados, mulherengos, gananciosos, mas, acima de tudo, adoráveis.
Eles não são heróis, não são politicamente corretos, são malandros. O galanteador Venkman só aceita cuidar do caso da Dana por achar que vai conseguir algo mais. Winston chega para a entrevista de seleção para o cargo disposto a acreditar em qualquer baboseira relacionada ao sobrenatural, como ele mesmo afirma descaradamente para a desinteressada secretária, contanto que o pagamento seja interessante. Eles não são heróis, não são politicamente corretos, são malandros. O galanteador Venkman só aceita cuidar do caso da Dana por achar que vai conseguir algo mais. Winston chega para a entrevista de seleção para o cargo disposto a acreditar em qualquer baboseira relacionada ao sobrenatural, como ele mesmo afirma descaradamente para a desinteressada secretária, contanto que o pagamento seja interessante.
Por mais que o sucesso do projeto tenha viabilizado uma sequência infantilizada e uma franquia de animações, quadrinhos e brinquedos, mídias em que o heroísmo obviamente ganhou destaque, o trunfo do filme original é que ele foi pensado como humor adulto ácido e crítico. A história não subestimava a inteligência das crianças, nem precisava infantilizar os personagens adultos para conquistar a atenção dos pequenos. Dito isto, o roteiro de “Ghostbusters – Mais Além” não é pensado para o público adulto, a proposta é completamente diferente.
Assim como “O Despertar da Força” escolheu retomar a franquia “Star Wars” praticamente copiando a estrutura narrativa de “Uma Nova Esperança”, Jason Reitman repete a essência da trama do original, que serve como pano de fundo para uma ode à família, trazendo crianças espetacularmente brilhantes e adultos bobinhos.
Sim, os novos caça-fantasmas são pirralhos que soltam piadocas e vivem altas aventuras, resumindo, contexto similar às fitas infanto-juvenis oitentistas, só que sem o talento de Steven Spielberg, Richard Donner ou John Hughes. Os dois primeiros atos são intensamente problemáticos, o texto não facilita a imersão emocional dos fãs antigos, tampouco conquista a garotada, o conceito é simplório, previsível, você consegue imaginar o desfecho logo nos primeiros 10 minutos.
Outro ponto que pode incomodar os fãs, o foco não é mais a comédia, o projeto se debruça no drama de forma piegas. É perceptível a boa intenção do roteirista/diretor, há um coração pulsante em vários momentos, mas a transformação radical do produto não soa crível, não flui bem, peca também por se apegar demais ao estilo “Stranger Things”.
O filme só melhora nos últimos 15 minutos, finalmente entregando o que todos aqueles que verdadeiramente se importam com “Os Caça-Fantasmas” estavam aguardando desde o segundo filme, lançado em 1989. Vale destacar que as 2 sequências pós-créditos são afinadas neste mesmo diapasão. É o bastante? Não. Acalenta a alma, faz a criança interior sorrir, mas, infelizmente, satisfaz plenamente apenas como uma LINDA homenagem à Harold Ramis, falecido em 2014.
Cotação:
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