7 Prisioneiros (2021)
Para dar uma vida melhor à família no interior, o jovem Mateus (Christian Malheiros) aceita trabalhar em um ferro-velho em São Paulo com o novo chefe Luca (Rodrigo Santoro). No entanto, ele acaba ficando preso no perigoso mundo da escravidão contemporânea com outros garotos e é forçado a decidir entre continuar nesta situação ou arriscar o futuro da família.
Alex Moratto é um diretor muito competente, “7 Prisioneiros”, em que participou também do roteiro, junto com Thayná Mantesso, repete a sua parceria de sucesso com Christian Malheiros, descoberto no ótimo “Sócrates” (2018), entregando um produto superior, mercadologicamente mais inteligente, objetivo, contundente, sem firulas estéticas, auxiliado pela presença no elenco de um inspirado Rodrigo Santoro.
O tom já é estabelecido logo no início, ambientado na humilde moradia campestre do jovem Mateus. A família afetuosa se despede do rapaz, um apaixonado por aviação que sonha ser engenheiro, orando respeitosamente antes do alimento, a lufada de ar fresco antes da descida ao inferno do tráfico humano; a mãe, vivida por Dirce Thomaz, protegida por todos, transmite no olhar a preocupação ao ver a alta soma de dinheiro, o “presente” dos aliciadores, ela, consciente das limitações de sua situação, parece prever que o menino, com seus objetivos de vida grandiosos, tão distantes da realidade de suas possibilidades, provavelmente sofrerá em seu novo caminho, mas ela silencia, entendendo que será um aprendizado que ele terá que conquistar sozinho.
O caminho narrativo mais confortável seria transformar a história em uma pura luta maniqueísta pela sobrevivência, com o protagonista buscando fugir de seu pesadelo, mas o roteiro envereda no segundo ato por uma estrada mais complexa, mais rica em nuances, examinando o psicológico do rapaz em sua tensa relação com Luca, do ódio extremo, passando pela identificação, culminando no momento crucial em que é levado a fazer uma importante escolha. Ao entender que está se tornando aquele que empunha o chicote, ele precisa descobrir em seu íntimo, em questão de segundos, se há espaço para sonhos em sua jornada.
O roteiro também é feliz ao transmitir que aquele microcosmo do ferro-velho só se sustenta porque há uma engrenagem de corrupção envolvendo políticos e policiais, uma rede criminosa autofágica, que inclui também a omissão dos civis, elemento simbolizado na cena em que o capanga prova para os garotos que nenhum dos moradores dos prédios vizinhos vai se importar com gritos de socorro.
A opção por um desfecho aberto pode incomodar alguns, mas considero coerente com a proposta, não se trata de um conto de redenção, tampouco uma lição de moral, “7 Prisioneiros” é um retrato realista, por conseguinte, frustrante, de como é impossível quebrar, de dentro para fora, um sistema tão aparelhado.
Cotação:
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