Críticas

Crítica de “Matrix Resurrections”, de Lana Wachowski

Matrix Resurrections (The Matrix Resurrections – 2021)

Em um mundo de duas realidades – a vida cotidiana e o que está por trás dela – Thomas Anderson (Keanu Reeves) terá que escolher seguir o coelho branco mais uma vez. A escolha, embora seja uma ilusão, ainda é a única maneira de entrar ou sair da Matrix, que é mais forte, mais segura e mais perigosa do que nunca.

Uma sociedade rasteira em valores dificilmente produzirá material cultural de alta qualidade, talvez isto explique porque está sendo tão difícil encontrar roteiros inteligentes na indústria mainstream nos últimos anos, sendo sincero, o nível está muito mais baixo que o normal, “Matrix Resurrections” poderia passar tranquilamente como uma fanfic, uma trama produzida por fãs amadores com grana para investir pesado em efeitos computadorizados.

Não há alma, não há propósito, o conceito exposto nos primeiros 10 minutos é razoável, mas a execução é péssima, parece ter sido pensado por algoritmos, consegue o feito de ser criativamente menos expressivo que “Reloaded” e “Revolutions”, lançados em 2003. Não precisava ter reinventado a roda, como o primeiro fez, principalmente no quesito técnico, mas ser terrivelmente genérico é algo imperdoável.

Há pontos positivos, claro, destaco a movimentada sequência no trem que insinua uma crítica, no espírito dos anteriores, ressaltando o óbvio aspecto farsesco na rasa teatralização do medo por trás do mundo atual, mas a ideia não se desenvolve, falta coragem, a obra que serviu no passado praticamente como um documentário sobre a manipulação social, algo que abriu os olhos de muitos através dos anos, hoje, parece um produto financiado pelos manipuladores, com acenos constrangedores para a já previsível agenda “progressista”, projetado como autossabotagem.

O exercício de metalinguagem, em teoria, poderia trazer ângulos surpreendentes para as reflexões abertas na trilogia original, mas nunca engata, não chega nem a aquecer os motores, torna-se apenas um recurso bobinho para confundir o público, resgatando figuras reconhecíveis de outrora em participações patéticas. A breve cena pós-créditos, coerente com o todo apresentado, não passa de uma bobagem cômica desgastada, pode agravar ainda mais a sensação de frustração.

Cotação:

  • A obra acaba de estrear nas salas de cinema, mas, caso a sua sala esteja exigindo, não avalize a grotesca segregação pelo “passaporte sanitário”, você já encontra gratuitamente o filme com extrema facilidade na internet. No jogo da vida, escolha sempre ser o judeu, nunca o nazista.
Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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