Não Olhe Para Cima (Don’t Look Up – 2021)
Uma dupla de cientistas descobre que um gigantesco meteoro vai se chocar contra a Terra em seis meses. No entanto, ao saírem alertando o mundo pela imprensa, os dois são recebidos com desdém e descrença.
O roteirista/diretor Adam McKay aprecia sobremaneira humor negro, cutucar feridas, traz no currículo a pérola “O Âncora – A Lenda de Ron Burgundy” (2004), gozação ácida com a imprensa televisiva, mas perdeu a mão com “Vice” (2018), em que debochava da política e da visão romantizada das cinebiografias hollywoodianas.
O estilo dele é espirituoso, conscientemente displicente, algo que coube como luva no contexto do primeiro, só que o exagero na utilização dos recursos narrativos espertinhos trabalhou contra a imersão no segundo, problema que já se mostrava evidente em “A Grande Aposta” (2015), o tom te retirava da experiência, fazia com que a atenção fosse direcionada para a forma, não para o conteúdo. McKay deixa claro em sua verborragia que se considera muito mais inteligente do que os seus personagens (e até o público), uma postura artisticamente arrogante.
O aspecto excessivamente pretensioso já é perceptível novamente na desnecessariamente longa duração de “Não Olhe Para Cima”, algo que simplesmente não se justifica narrativamente. O ritmo é terrivelmente arrastado, algumas cenas se alongam de forma irritante, sem sutileza, desgastando o elemento cômico que se perde pela exaustão, problema que nem mesmo o elenco grandioso, incluindo Meryl Streep, Leonardo DiCaprio e Cate Blanchett, consegue compensar.
Nas redes sociais, o filme provocou um fenômeno curioso, a esquerda afirma que é uma forte crítica à direita, mas a direita afirma que é uma forte crítica à esquerda. O que eu enxergo neste sentido sobre a obra? Na superfície, fica óbvio que utiliza o meteoro como alegoria para demonizar os governos “negacionistas” que não abraçam a agenda do “aquecimento global”, incita o ódio contra os lúcidos e qualquer indivíduo que ouse questionar o tema, mas o roteiro joga material suficiente para as duas plateias se identificarem nos estereótipos que alimentam, os papeis que cumprem no tabuleiro, com espaço generoso para linguagem preditiva, sinalizando a farsesca ameaça futura nos planos descarados de escravidão totalitária pelo medo.
Na seara das sátiras cinematográficas com viés político/social, a objetividade é o segredo do sucesso, títulos como “Dr. Fantástico”, “O Dorminhoco”, “Idiocracia”, “O Demolidor”, “Tempos Modernos” e “A Morte de Stalin”, entenderam plenamente esta necessidade básica, o ato de se colocar os pés no chão e rir de si mesmo é fundamental, McKay peca sempre por se colocar num pedestal, enquanto aponta o dedo e ri alto dos pobres mortais abaixo, postura nada simpática que transparece em seu estilo do início ao fim e suscita repulsa, ao invés de convidar o espectador à divertida autocrítica.
A impressão que passa é que estamos em posição desprivilegiada vendo os titereiros do caos, aqueles que propositalmente financiam a alienação da massa, os multimilionários que preparam o gado para o abate, rindo muito da cara daqueles que facilmente manipulam com teatralidade rasteira.
Cotação:
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Dormi após os primeiros 15 ou 20 minutos do filme…
Parabéns pela crítica.
Mas em poucas palavras, foi uma decepção, verdadeiro filme lixo, um desrespeito aos grandes atores que parecem estar perdidos por uma péssima direção.
Eles se esforçaram para melhorar o filme, mas o roteiro, as falas, até a direção dos câmeras foi péssima!
Não daria mais que o mínima de uma estrela.
Desculpe me o desabafo, mas ao ver os atores tive uma alta expectativa que me causou forte desgosto e sentimento de perda de tempo.
Se eu pudesse filtrar para excluir todos os filmes deste diretor, eu faria. Grato pelo seu trabalho.
Assisti e não Gostei!, Ridículo o Final!, Passam Milhares de Anos em Câmaras Criogênica e Saem Saltitando como se não tivessem Efeitos Colaterais!, A Cena em que a Presidente É Abocanhada por um "Pássaro" é de extremo Mau Gosto e, o pior ; Ninguém se Preocupa,...; MEIA ESTRELA 🌟