O meu foco são os filmes, sempre reforço que é difícil conseguir o tempo necessário para analisar séries, até porque, infelizmente, raras são aquelas que conseguem manter o nível de qualidade até o fim, a maioria se perde no meio do caminho, mas ver “Cobra Kai” é um prazer, episódios curtos, objetivos, com roteiros espertos do trio Jon Hurwitz, Hayden Schlossberg e Josh Heald…
Assim começava a minha crítica da terceira temporada, mas, infelizmente, algo importante na essência do conceito se perdeu, os roteiros dos episódios se tornaram inchados, confusos, bagunçados, o ritmo não flui tão bem, fora os momentos de interação entre Daniel (Ralph Macchio) e Johnny (William Zabka), que seguem esbanjando carisma, auxiliados pela bagagem de investimento emocional nostálgico dos fãs, a impressão que passa é de que estamos acompanhando uma telenovela mexicana, os conflitos no núcleo adolescente alcançam altos níveis de constrangimento (não só pelo aspecto técnico da atuação, mas, principalmente, pelo texto que defendem), tudo o que parecia simpático para o público adulto nas temporadas anteriores, acabou se tornando irritante.
Alguns antecipavam o “efeito Netflix”, leia-se, preocupação exagerada com a agenda “progressista”, mas, na realidade, com exceção de pontos específicos, o espírito da série se manteve firme, até me surpreendi com a quantidade de piadas defendidas por Johnny neste sentido, mas, sim, há acenos evidentes que reforçam demais a ideia de desconstrução, os tons de cinza, e, neste quesito, infelizmente pesaram a mão.
Não bastava ter apenas um filho (Griffin Santopietro) do Daniel se tornando um praticante de bullying escolar? O arco narrativo do menino até poderia ter sido melhor trabalhado, a ideia é boa, uma inversão esperta da história do próprio filme original, mas não há tempo, os roteiristas desconstroem também a filha (Mary Mouser), que, de forma inegavelmente forçada, se torna a megera na vida da Tory (Peyton List), até então, uma unidimensional vilã, transformada nesta temporada em pobre coitada, guerreira sofredora, vítima das circunstâncias.
E, sem exagero, não para por aí, praticamente todos os personagens participam nesta dança das cadeiras, quebrando as expectativas do público, que é levado a sentir empatia em certo momento até pelo óbvio psicopata Terry Silver (Thomas Ian Griffith). Uma opção inteligente, analisando pelo ponto de vista criativo, seria apostar em mais episódios, para desenvolver melhor estas reviravoltas, talvez soassem menos gratuitas ou desnecessárias.
Há, por exemplo, toda uma subtrama que encontra dificuldade para se encaixar em apenas 10 episódios, protagonizada por um menino (Dallas Dupree Young) que repete o drama vivido por Daniel na adolescência, mas que, como não poderia ser diferente, também acaba eventualmente entrando na confusa ciranda de desconstrução.
É uma obsessão que acaba tirando o foco da diversão, afinal, o motivo desta série existir é a paixão dos roteiristas pelo material original (não é?). Se, como deixam transparecer neste ano, tudo estava tão errado na composição dos personagens clássicos (e, no caso dos novos, como no Hawk, vivido por Jacob Bertrand, até mesmo na personalidade estabelecida nas temporadas anteriores), não teria sido melhor criar algo novo, do zero?
Como eu já sinalizava na crítica da terceira temporada, quando TODOS na história são heróis e vilões, NINGUÉM é herói nem vilão, um caminho complicado, sensorialmente cansativo e filosoficamente espinhoso, principalmente nas mentes em formação (vulneráveis) de crianças.
A trama entrega no quinto episódio algo que os fãs aguardavam ansiosamente, algo que foi alimentado desde o início, mas, por incrível que possa parecer, simplesmente falha em empolgar, e, pior, finaliza como patético alívio cômico. Próximo ao desfecho, uma boa surpresa, os roteiristas revisitam uma canção que é um símbolo do clássico de 1984, mas a forma estraga o conteúdo, novamente, o recurso não suscita mais que um sorriso de canto de boca.
E, vale destacar, devido ao inchaço narrativo e a quantidade absurda de personagens, um elemento importante no esqueleto dos filmes que se perde é a escalada emotiva para o torneio, algo que, em teoria, devia ser épico, algo alimentado nos episódios, mas que, na prática, cai de paraquedas, do nada, logo após um episódio constrangedor abordando um baile de formatura.
É uma pena constatar que, ao que tudo indica, o conceito tão bacana das primeiras 3 temporadas está se perdendo, parece rumar rapidamente para uma variação mais refinada da “Malhação” da Rede Globo.
Cotação:
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