Quando eu comecei a estudar apaixonadamente a história do cinema na pré-adolescência, a era silenciosa me fascinava sobremaneira, entender e vivenciar o passado era fundamental, buscava nas bibliotecas todas as informações sobre os medalhões da época, garimpava tudo o que encontrava do período nas locadoras de vídeo, mas, naquela época, não li nada sobre Segundo de Chomón (Segundo Víctor Aurelio Chomón y Ruiz).
O material em português sobre o cineasta espanhol, se havia, não passou pelas minhas mãos, eu só fui entrar em contato com sua obra muitos anos depois, já na fase áurea da internet discada, e, mesmo assim, os textos basicamente reduziam ele à um imitador dos truques do genial francês Georges Méliès, e, como naquele momento eu já era fluente em inglês e espanhol, leia-se, a fonte de estudos se expandiu consideravelmente, perseguia qualquer livro estrangeiro focado na produção cinematográfica espanhola, francesa e italiana, e, só então, tive a oportunidade de entender a real importância deste artista.
Na realidade, a magia de Méliès encantou o mundo todo, obviamente despertou a inspiração de vários empreendedores neste mercado novo que se abria, entre eles, Ferdinand Zecca, colega de Chomón na Pathé, que também foi vítima da mesma simplificação, longe de ser um imitador, ele utilizava o artifício como pano de fundo, como em seu filme mais importante, a primeira versão de “Quo Vadis?” (1901), vale ressaltar, trabalho que contou com o auxílio fundamental de outra figura importantíssima nesta gênese da sétima arte, o pai do mestre Mario Bava, Eugenio Bava, responsável pela trucagem visual da impressionante cena dos leões na arena, uma parceria que foi fundamental para os primeiros passos do filho na indústria.
Vale destacar também que o conceito de refilmagem, algo analisado nas últimas décadas como um esforço desprestigioso, menor, costumava ser tratado nas décadas iniciais da arte como algo muito comum. Um exemplo pouco conhecido dentro da própria carreira de Chomón é “La Maison Ensorcelée”, erroneamente citado por muitas fontes como tendo sido produzido em 1908, na realidade foi no ano anterior, trata-se de uma refilmagem encomendada pela Pathé do sucesso “The Haunted Hotel”, produzido em 1906, de James Stuart Blackton. O brilhantismo de Chomón, no entanto, garantiu um desfecho surrealista muito superior ao original.
Charles Pathé, reconhecendo o talento dele, dava total liberdade criativa, algo que se percebe claramente na forma como ele utilizava todo tipo de técnica, como marionetes, pintura fosca, animação quadro a quadro (precursor do stop-motion), exposições múltiplas e animação desenhada à mão.
No momento em que o trabalho do próprio Méliès já estava em declínio, já que a linguagem narrativa cinematográfica evoluía rapidamente, Chomón foi convocado para operar sua mágica na Itália, onde criou trucagens visuais para o épico “Cabiria” (1915), de Giovanni Pastrone, e na França, seu último projeto, dois anos antes de seu falecimento, com apenas 57 anos de idade, o gigantesco “Napoleão” (1927), de Abel Gance, em que ele utilizou um sistema que se tornaria o molde para os formatos panorâmicos.
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Eu selecionei abaixo os 10 melhores trabalhos do diretor, disponíveis no Youtube, para facilitar o início do seu garimpo cultural:
La Fée Printemps (1902)
Barcelone – Parc au Crépuscule (1904)
La Maison Ensorcelée (1907)
Satán se Divierte (1907)
El Hotel Eléctrico (1908)
La Grenouille (1908)
Une Excursion Incohérente (1909)
Lulù (1923)
Le Voyage sur Jupiter (1909)
Superstition Andalouse (1912)
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