Críticas

Crítica de “Licorice Pizza”, de Paul Thomas Anderson

Licorice Pizza (2021)

Gary (Cooper Hoffman) e Alana (Alana Haim) se conhecem por acaso no Vale de San Fernando, em 1973. Apesar de ser dez anos mais novo, Gary não faz questão alguma de esconder seu interesse por Alana, que passa a sentir algo que não consegue compreender pelo rapaz.

O sempre competente Paul Thomas Anderson utiliza as histórias da adolescência do amigo Gary Goetzman para, coerente ao seu estilo usual, criar um recorte temporal encantador do início da década de 70 nos Estados Unidos, em sua essência, um fascinante conto de maturidade, defendido com excelência por dois jovens estreantes, Alana Haim e Cooper Hoffman, filho do saudoso Philip Seymour Hoffman, frequente parceiro do roteirista/diretor.

“Licorice Pizza” é, acima de tudo, uma experiência emocional imersiva como poucas, um terno estudo de personagens estruturado no roteiro como fragmentos de memória, vale destacar, trabalhados com muito senso de humor, elemento que opera a mágica.

No papel, não parece que vai dar tão certo, o relacionamento complicado de Gary e Alana é, em teoria, um conceito já executado diversas vezes no cinema, nem mesmo a ideia de cruzar eventos culturalmente importantes neste contexto é inovadora, “Forrest Gump” é um ótimo exemplo, podemos inclusive questionar a veracidade das situações, em alguns pontos a caricatura ganha tintas mais fortes, algo que poderia prejudicar a imersão, como no segmento em que Sean Penn dá vida ao saudoso ator William Holden (na trama, Jack Holden), ou na hilária participação de Bradley Cooper, como o produtor Jon Peters, mas o filme nos agarra pelo coração nos primeiros minutos e não larga mais.

O segredo do sucesso, o truque da mágica, é a apaixonante dupla protagonista, os créditos finais rolam na tela, mas você pagaria para seguir acompanhando os dois por mais algumas horas.

O menino enxerga na mulher um desafio romântico platônico, ele, como testemunhamos no decorrer da história, possui um corajoso espírito empreendedor, talvez por ter sido estimulado desde muito pequeno, atuando como artista mirim.

Ela, apesar de dez anos mais velha, não demonstra na prática ser mais madura, ao invés de buscar as oportunidades, quer alguém que, como um príncipe encantado, carregue-a nos braços de seu castelo (no caso, da rígida criação familiar judia) para uma realidade melhor, em suma, ela, ambiciosa, deseja o poder, ele, inocente, o afeto.

A atração existe, não há como negar, não é apenas física, mas ela é alimentada pelo medo, como é evidenciado no leitmotiv visual utilizado com sensibilidade no terceiro ato, os dois parecem estar sempre correndo de algo, fugindo até deles mesmos.

Anderson se dedica a mostrar a evolução deste relacionamento, do medo natural da juventude ao prazer que somente a segurança existencial poderia proporcionar.

O desfecho transmite uma positividade que, nos tempos de hoje, pode ser considerada terapêutica.

Um raro projeto pensado para adultos psicologicamente maduros, desde já, um dos melhores filmes do ano.

Cotação:

  • A obra acaba de estrear nas salas de cinema, mas, caso a sua esteja exigindo, não avalize a grotesca segregação pelo “passaporte sanitário”, você já encontra gratuitamente o filme com extrema facilidade na internet. No jogo da vida, escolha sempre ser o judeu, nunca o nazista.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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