Críticas

Crítica de “The Batman”, de Matt Reeves

The Batman (2022)

Hoje em dia é muito fácil manipular as massas, até veículos de cultura direcionados ao público adolescente nerd desativam a opção de comentários, a mensagem é clara: você precisa concordar com nossa agenda, se não concorda, não é cool, está por fora.

O efeito psicológico disto é óbvio, os primeiros que abraçam publicamente a versão oficial são o molde a ser seguido, percebo claramente até certo constrangimento em colegas críticos, eles sentem que precisam se adequar ao pensamento vigente, a rasa cultura do “explicando o final de…” tomou conta das mentes, sintomático do empobrecimento intelectual e do processo de infantilização comportamental. O sistema não está criando indivíduos corajosos e pensantes, mas sim, alimentando obedientes escravos.

A minha reflexão nasceu ao constatar a reação positiva exagerada da imprensa e do público diante desta bobagem, “The Batman”, um projeto que, para quem acompanha os bastidores do jogo, foi problemático desde o início da produção, passou por diversas exibições-teste com péssima recepção, refilmagens extensivas, chegou até a ser cogitado o seu engavetamento. A propaganda é a alma do negócio, logo, os executivos abasteceram a máquina, o hype foi intenso nos meses que antecederam sua estreia, aquele barulho fabricado que todo estúdio faz quando enxerga riscos.

Analisando o resultado sem esta bagagem, com honestidade intelectual e maturidade emocional, o filme é, sendo generoso, ruim, extremamente inchado, monótono, sensorialmente irritante, um roteiro que deixa evidente suas constantes modificações ao longo das filmagens, leia-se, cheio de furos de lógica narrativa, algo que prejudicou o ritmo, em suma, o todo é bobo e incoerente demais para adultos maduros, sorumbático e arrastado demais para crianças, e, visto como produto para fã, no que me incluo, serve apenas aos que valorizam o principal material de referência, inegavelmente fraco, os três volumes de “Batman – Terra Um”, de Geoff Johns, uma visão do vigilante de Gotham como um abobalhado, impulsivo, mimado, sem anos de treinamento intensivo no exterior.

Se você cresceu lendo as aventuras do Batman detetivesco, capaz de rivalizar com Sherlock Holmes no quesito inteligência, pensadas por nomes como Norm Breyfogle, Alan Grant, Doug Moench e Kelley Jones, vai se contorcer na cena em que o personagem literalmente bate educadamente na porta do vilão durante uma investigação. Outro ponto que incomoda bastante, nas páginas dos quadrinhos e em desenhos animados funciona inserir o herói no contexto da perícia na cena do crime ao lado dos policiais, mas, na linguagem cinematográfica, fica bastante ridículo, a situação não dá para ser afinada no diapasão do “Seven”, de David Fincher, fica parecendo uma esquete de programa de humor, quebra a imersão e a suspensão de descrença, principalmente quando se estabelece nestas cenas que o rapaz com cosplay de morcego é alvo de deboche dos fardados.

Eu compreendo a necessidade de aceitação social da garotada que produz vídeos afirmando que este é o melhor filme de todos os tempos, com aquelas thumbs coloridas e expressões forçadas de jardim de infância, mas, defendo o retorno da lucidez, creio que, no microcosmo de adaptações live action do herói criado por Bill Finger e Bob Kane, seja até injusto comparar “The Batman” com a trilogia recente de Christopher Nolan, e, indo mais além, até mesmo os dois projetos comandados por Tim Burton, também imperfeitos, pelo menos primavam pela segurança estética de seu diretor, tinham transbordante personalidade, sem falar na memorável trilha sonora de Danny Elfman. Neste aspecto, vale ressaltar, o esforço de Michael Giacchino é insuportável, irritante no pior sentido, um dos pontos mais fracos da obra.

Robert Pattinson é um ótimo ator, ele não deve levar a culpa, pois capta competentemente esta versão do personagem, que é, em essência, crítica ao uso da violência excessiva em sua jornada, pintando ele (e a própria polícia) como bandido, “macho tóxico”, fruto da mesma agenda que enxergou no “Coringa” de Joaquin Phoenix uma pobre vítima das circunstâncias, uma patifaria ideológica que se expõe sem sutileza alguma. Não é proibido que uma obra defenda qualquer ideologia, o maior pecado do filme é que não há senso mínimo de diversão.

“The Batman” é, sendo objetivo, um produto de seu tempo, leia-se, o produto de um dos momentos mais patéticos, pouco inspirados, infantilizados, estupidamente rasteiros, da sociedade.

Cotação:

  • A obra acaba de estrear nas salas de cinema, mas, caso a sua esteja exigindo, não avalize a grotesca segregação pelo “passaporte sanitário”, você já encontra gratuitamente o filme com extrema facilidade na internet. No jogo da vida, escolha sempre ser o judeu, nunca o nazista.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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  • Assisti isso ontem (01/05) e fiquei incomodado: desde quando o Batman precisou rabiscar grandes diagramas (absolutamente básicos por sinal) no chão para desenvolver raciocínios?!? Cadê a capacidade de elaborar raciocínios complexos com a mente detetivesca?
    Que titica de personagem é esse que como detetive deixou as bombas explodir e, como herói só levou sarrafo?!?
    Já não tinha gostado nem um pouco da trilogia do Nolan, mas esse conseguiu ser depressivamente pior!

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