Belfast (2021)
Na Irlanda do Norte dos anos 60, um menino (Jude Hill) de 9 anos experimenta o amor, a alegria e a perda. Em meio a conflitos políticos e sociais, o garoto tenta encontrar um lugar seguro para sonhar enquanto sua família (Jamie Dornan, Caitriona Balfe, Judi Dench, Ciarán Hinds e Lewis McAskie) busca uma vida melhor.
O roteiro intensamente autobiográfico utiliza o amor do protagonista pelo cinema (inteligente utilização da cor nestas cenas, enfatizando o poder inspirador da arte) como força motriz para atravessar o período sombrio em família, Branagh evoca sutilmente pérolas como “Jacquot de Nantes” (1991), de Agnès Varda, e “Esperança e Glória” (1987), de John Boorman, trabalhando a trama do conflito entre os protestantes e os católicos pela perspectiva ingênua do menino, incapaz de compreender como funciona aquele microcosmo movido por medo e violência.
Ao invés de criar cenas grandiosas, dramaticamente densas, algo que se poderia antecipar devido à experiência do diretor com adaptações de Shakespeare, ele entrega lindos recortes comuns que poderiam até passar despercebidos.
Eu gosto particularmente das interações entre o menino e seus avós, e, claro, os segmentos em que ele se mostra encantado com a colega de classe, a beleza pura do primeiro amor, a timidez inicial da menina ao se perceber admirada por ele na carteira ao lado, seguida pelo desconforto ao não receber atenção no dia em que o garoto, perturbado pela ausência do pai, mantém o olhar perdido na paisagem da janela, uma evolução romântica que é interrompida por um obstáculo inesperado, quando, graças ao bom desempenho escolar, ele vai se sentar na frente dela, leia-se, não poderá se limitar aos furtivos olhares apaixonados, será necessário puxar conversa.
No momento em que ele percebe este desafio, seu rosto vai da alegria ao muxoxo em questão de segundos, uma sequência adorável plena em coração.
Na análise fria, há um problema de ritmo evidente, a opção pela estrutura narrativa livre composta por fragmentos de memória, proposta similar à do recente “Licorice Pizza”, de Paul Thomas Anderson, na prática, faz com que os primeiros 50 minutos pareçam 100, torna a experiência um pouco arrastada, cansativa, apesar da conexão emocional do público, mas o carisma do pequeno e talentoso Jude Hill compensa esta fragilidade.
“Belfast” é uma obra intimista, um projeto extremamente pessoal que Branagh conduz com sensibilidade e carinho até seu bonito desfecho.
Cotação:
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