Críticas

Crítica de “A Pior Pessoa do Mundo”, de Joachim Trier

A Pior Pessoa do Mundo (Verdens Verste Menneske – 2021)

Julie (Renate Reinsve), que em breve fará 30 anos, não parece conseguir assentar. Quando pensa ter encontrado alguma estabilidade com Aksel (Anders Danielsen Lie), um escritor de sucesso de 45 anos, conhece o jovem e bonito Eivind (Herbert Nordrum).

O roteirista/diretor norueguês, nascido na Dinamarca, Joachim Trier já entregou bons filmes, “Começar de Novo” (2006) e “Oslo, 31 de Agosto” (2011) foram ótimos cartões de apresentação, mas considerei seus projetos seguintes, “Mais Forte Que Bombas” (2015) e “Thelma” (2017), esforços menores, firmes nas ideias, mas problemáticos na execução.

Ele retorna em “A Pior Pessoa do Mundo”, novamente em parceria com Eskil Vogt, a sua melhor obra até o momento, artisticamente madura, segura, com senso de humor, uma visão realista e filosoficamente instigante sobre os relacionamentos românticos, utilizando (e subvertendo) algumas convenções do gênero para aprofundar a discussão, experiência que ganha pontos devido ao carisma arrebatador de sua protagonista, Julie (Reinsve), que busca se encontrar existencialmente ao se aproximar dos 30 anos de idade, tentando conter sua impulsividade enquanto enfrenta os desafios diários.

O inteligente título enfatiza a importância equivocada que é dada aos erros na jornada do autoconhecimento, a tolice de se cobrar demais, e, principalmente, o preço de se negociar a liberdade em troca da aceitação social, um aprendizado que é estruturado de forma episódica no roteiro, opção que pode parecer puro pretensiosismo vazio, mas que, na prática, traça uma clara linha divisória entre as variadas estéticas que Trier abraça em cada capítulo, agregando camadas e, numa leitura mais ampla, trazendo a trama mais perto da realidade da vida, imprevisível, rica em sentimentos conflituosos.

A mensagem funciona porque é trabalhada pelo diretor com leveza, um tom esperançoso que cativa o público, afinal, viver não é fácil para ninguém, mas o peso dos problemas, na maior parte das vezes, nasce de uma percepção ilusória forjada exclusivamente pelo medo, o segredo está na forma como se lida com os obstáculos.

Cotação:

  • A obra acaba de estrear nas salas de cinema, mas, caso a sua esteja exigindo, não avalize a grotesca segregação pelo “passaporte sanitário”, você já encontra gratuitamente o filme com extrema facilidade na internet. No jogo da vida, escolha sempre ser o judeu, nunca o nazista.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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