Críticas

Dica do DTC – “Colisão de Feras”, de Noel M. Smith, com RIN TIN TIN

No “Dica do DTC”, a nova seção do “Devo Tudo ao Cinema”, a intenção não é entregar uma longa análise crítica, algo que toma bastante tempo, mas sim, uma espécie de drops cultural, estimulando o seu garimpo (lembrando que só serão abordados filmes que você encontra com facilidade em DVD, streaming ou na internet). O formato permite que mais material seja produzido, já que os textos são curtos e despretensiosos.

***

Colisão de Feras (Clash of The Wolves – 1925)

Um incêndio nas montanhas empurrou uma matilha de lobos para as proximidades de uma pequena cidade. O líder do bando é Lobo, na verdade, um mestiço (Rin Tin Tin). Depois de ferido numa perseguição, Lobo é salvo por um garimpeiro (Charles Farrell). Começa assim uma forte amizade entre eles, e também se envolvem numa aventura alucinante.

O mundo, caso nada seja feito no intuito de reverter este processo, parece se encaminhar para um terrível reinício em todos os sentidos, a memória cultural será cancelada, desvalorizada, destruída, apagada, a massa confusa e subserviente nem sentirá falta, uma triste realidade que já pode ser percebida hoje, basta você procurar veículos de imprensa brasileiros que produzam material sobre cinema que se preocupam em formar um público criterioso e apaixonado pela História desta arte, com exceção do “Devo Tudo ao Cinema”, modéstia à parte, e alguns blogs direcionados aos nichos temáticos, como terror e ficção científica, o sentido de preservação se perdeu, o consumo se tornou puramente imediatista, descartável.

Esta reflexão nasceu quando percebi nas redes sociais, em um grupo de cinema, que adolescentes nunca tinham escutado sobre Rin Tin Tin (também grafado Rin-Tin-Tin). Eu lembro que, quando criança, li sobre a história do cão mais famoso de Hollywood nas páginas da revista “Cinemin”, ele já não era popular na época, fazia parte da geração dos meus avós, mas revistas e programas de TV se preocupavam em informar, manter o legado vivo, a garotada dos anos 80 assistia aos clássicos de Jerry Lewis e maravilhosos musicais da MGM na “Sessão da Tarde”, nós não éramos adestrados pelo sistema ao desprezo por tudo que fosse antigo, muito pelo contrário, o estímulo era de puro respeito, não havia necessidade de lembretes grotescos, sempre em tom negativo, antes e depois dos programas, avisando que foram realizados em contextos ultrapassados.

Se alguma emissora de TV transmitir hoje no horário da manhã algum curta do Gordo e o Magro, possivelmente as crianças sairão correndo da sala, assustadas com as imagens em preto e branco, analise, perceba como o sistema, até mesmo na indústria do entretenimento, está, sem sutileza alguma, manipulando a massa a ter medo de envelhecer. Será que, em breve, o adulto de 60 anos precisará mentir sua idade para conseguir se manter como cidadão ativo na sociedade? Será que haverá adoecimento forçado desde cedo para garantir que raros organismos consigam alcançar os 60 anos de idade? Antes que estas reflexões lúcidas perturbem ainda mais minha mente, volto ao tema do texto: Rin Tin Tin, o Cão Maravilha.

O lendário pastor alemão que se tornou um astro internacional tem uma história clássica de redenção cinematográfica. Em 1918, os soldados aliados romperam a linha alemã no nordeste da França. Quando os alemães evacuaram a área, alguns homens foram enviados para vasculhar o campo para ver o que restava. Entre os destroços de uma estação de cães de guerra, eles encontraram uma cadela e seus filhotes, abandonados e já praticamente mortos.

O soldado norte-americano Lee Duncan viu aquela cena dramática e não conseguiu acatar as frias ordens de seus superiores, ele, com a ajuda de seus companheiros, carregou os animais de volta à base. Como ele era treinador de cães policiais, ele preparou o filhote mais esperto, nomeado de Rin Tin Tin (Rinty), para ajudar nos mais variados cenários problemáticos. Os vídeos de seus treinamentos acabaram chegando nas mãos de executivos de Hollywood, que, obviamente, enxergaram a possibilidade de conquistar os corações de crianças e adultos.

O sucesso do cão foi impressionante, um fenômeno, a máquina de propaganda alimentava sua carreira internacional enviando imagens dele “assinando” seus contratos, deixando sua pegada nos documentos oficiais, pequenos do mundo todo enviavam cartas pedindo autógrafos, que eram assinados por Duncan: “Fielmente, Rin Tin Tin”, houve até campanha para que ele fosse indicado ao Oscar. O soldado não se importava com a fama, ele verdadeiramente amava seu cão.

Rinty faleceu em 1932, as emissoras de TV produziram especiais em sua homenagem, ele estampou todas as manchetes dos jornais na manhã seguinte, e, em 1960, ele finalmente recebeu sua estrela na Calçada da Fama.

Infelizmente, dos mais de 25 filmes em que participou, apenas 6 sobreviveram, e, destes, “Colisão de Feras” é o melhor. Uma cópia em 35mm do filme foi descoberta na África do Sul e restaurada em 2003. Em 2004, ele foi considerado “culturalmente, historicamente ou esteticamente significativo” pela Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, selecionado para preservação no National Film Registry.

  • Você encontra o filme em DVD e, claro, facilmente garimpando na internet.
Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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