Críticas

Dica do DTC – “O Saci”, de Rodolfo Nanni

Texto introdutório escrito e publicado originalmente em julho de 2018:

A obra de Monteiro Lobato vai entrar em domínio público, algo que me fez pensar no absurdo que está sendo cometido neste país com um dos maiores nomes da nossa literatura, vítima do politicamente correto, espécie de “Novilíngua” orwelliana.

Eu considero o “Sítio do Picapau Amarelo” um tesouro inestimável que deve ser mantido INALTERADO em respeito ao legado do saudoso mestre paulista, que, em longo prazo, considerando o pouco apreço do brasileiro pela memória cultural, pode acabar se transformando em um “monstro”. E, claro, com tantas adaptações/revisões estúpidas, rasteiras, pode ter a qualidade de seu trabalho reduzida a reles passatempo sem brilho. O Brasil segue ficando cada vez mais pobre de espírito, sem alma, sem gratidão.

Preservo com muito carinho as edições originais de seus livros infantis, fonte de inspiração que foi fundamental em meu amor pela palavra escrita desde muito pequeno. Que Lobato seja lido pelas novas gerações, estudado e, acima de tudo, RESPEITADO!

No “Dica do DTC”, a nova seção do “Devo Tudo ao Cinema”, a intenção não é entregar uma longa análise crítica, algo que toma bastante tempo, mas sim, uma espécie de drops cultural, estimulando o seu garimpo (lembrando que só serão abordados filmes que você encontra com facilidade em DVD, streaming ou na internet). O formato permite que mais material seja produzido, já que os textos são curtos e despretensiosos.

***

O Saci (produzido em 1951, mas lançado em 1953)

As aventuras de Pedrinho (Lívio Nanni) e suas tentativas de capturar o endiabrado Saci (Paulo Matosinho), que depois irá ajudar a desfazer a bruxaria da Cuca (Mário Meneguelli), tudo com a ajuda de Emília (Olga Maria) e Narizinho (Aristéia Paula Souza) do Sítio do Pica-Pau Amarelo, onde vivem Dona Benta (Maria Rosa Ribeiro) e Tia Anastácia (Benedita Rodrigues).

O cinema brasileiro direcionado especificamente às crianças é pouco expressivo, ele se resume basicamente às populares produções dos Trapalhões, “As Quatro Chaves Mágicas” (1971) e “Menino Maluquinho” (1994), com pérolas adicionais, como “O Meu Pé de Laranja Lima” (1970) e “O Saci”, mas, no geral, até os melhores títulos soam engessados, carecem de ternura.

Apesar de não ter sobrevivido tão bem no teste do tempo, a montagem é problemática, a adaptação da obra do grande Monteiro Lobato é extremamente importante, a produção idealizada por Rodolfo Nanni, que também assina o roteiro junto com Arthur Neves, foi lançada apenas 4 anos após o falecimento do autor.

É perceptível o capricho em todos os aspectos técnicos, vale destacar neste sentido a presença de Nelson Pereira dos Santos e Alex Viany como assistentes de direção. O respeito pelo material original se enxerga claramente na forma como a trama é fiel em letra e, principalmente, em espírito à essência das páginas de Lobato, com o realismo dos cenários agregando na atmosfera lúdica, nostálgica, elemento que conquistou o público da época, que lotava as sessões por todo o país.

Eu gosto de como a obra utiliza convenções do terror para transmitir a ameaça na figura da Cuca, não há qualquer receio em assustar os pequenos, atitude louvável que respeitava a inteligência da garotada, período em que os pais ensinavam cedo a discernir fantasia e realidade, algo fundamental na formação do caráter, claro, quando o objetivo é formar indivíduos psicologicamente maduros e livres.

  • Você encontra facilmente o filme garimpando na internet.
Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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