Godzilla (Gojira – 1954)
Um gigantesco réptil mutante surge em virtude de testes nucleares. A monstruosa criatura cria um rastro de destruição no seu caminho até Tóquio, que corre o risco de ser totalmente destruída.
O monstro mais famoso do cinema só funciona como ameaça em preto e branco. As sombras combinam perfeitamente com a alegoria que o original, dirigido por Ishirô Honda, defendia com seriedade. A trilha sonora, com direito ao tema icônico, composta por Akira Ikufube, capta a essência humana da história, soando como uma marcha fúnebre, desesperançada, verdadeiramente perturbadora.
Uma trama que incita reflexões complexas, profundamente depressivas, sobre o impacto psicológico do desastre nuclear de Hiroshima e Nagasaki no povo japonês, evento que havia ocorrido apenas dez anos antes da produção. Os filmes posteriores são diversão descompromissada, bobagens (algumas competentes) muito distantes da beleza de cenas como a do coro de crianças entoando um hino à paz, enfrentando com honra a possível destruição. É o momento pungente em que o véu da metáfora cai, revelando as cicatrizes abertas da nação.
Gojira, no original, mistura de gorila com baleia, com seu inconfundível urro, nada mais que uma mão enluvada de couro sendo esfregada nas cordas de um contrabaixo, receberia em 1956 uma inferior versão para o mercado norte-americano, com muitos cortes e a adição de sequências protagonizadas por Raymond Burr, o vizinho assassino de “Janela Indiscreta”, de Hitchcock, com o título: “Godzilla, King of The Monsters!”
O estúdio Toho produziu no mesmo período outra pérola abordando o trauma nuclear, “Anatomia do Medo”, de Akira Kurosawa, mas o projeto fracassou nas bilheterias, enquanto que a crítica mais direta e popular, não menos refinada, o kaiju (monstro), a produção mais cara já feita no país até aquele momento, foi um tremendo sucesso.
Vale destacar, no elenco, a presença marcante do grande Takashi Shimura, parceiro frequente de Kurosawa.
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