Críticas

Crítica de “Jurassic World – Domínio”, de Colin Trevorrow

Jurassic World – Domínio (Jurassic World: Dominion – 2022)

Quatro anos após a destruição da Ilha Nublar, os dinossauros agora vivem – e caçam – ao lado de humanos em todo o mundo. Contudo, nem todos répteis consegue viver em harmonia com a espécie humana, trazendo problemas graves. Os ex-funcionários do parque dos dinossauros, Claire (Bryce Dallas Howard) e Owen (Chris Pratt) se envolvem nesta problemática e buscam uma solução, contando com a ajuda dos cientistas experientes em dinossauros, Alan Grant (Sam Neill), Ellie Sattler (Laura Dern) e Ian Malcolm (Jeff Goldblum).

O negócio está ficando divertido, quando os meus colegas de crítica e esta garotada youtuber cheia de gírias apedrejam uma obra, pode ter certeza, ela ousou em algum nível desrespeitar a agenda “progressista”, logo, as chances dela ser boa são consideráveis.

O curioso é que a trama de “Jurassic World – Domínio” até insere acenos executados com inteligência neste sentido, mas, após o final da sessão, entendi plenamente os motivos da birra dos floquinhos de neve, o roteiro de Emily Carmichael e Colin Trevorrow, a partir da história de Derek Connolly, não defende que é preciso substituir sem cerimônia o velho pelo novo (perceba a metáfora na forma como utilizam o Tiranossauro Rex, que representa a trilogia original, em uma cena importante no terceiro ato), e, principalmente, opta por um caminho narrativo verdadeiramente surpreendente, que flerta com a ação vertiginosa dos melhores filmes do agente 007, trabalhando o mistério por trás do conceito dos gafanhotos geneticamente modificados.

 

A decisão honra o leitmotiv presente nos dois livros de Michael Crichton no tema e, por conseguinte, no filme clássico: a ciência sendo conscientemente desvirtuada e utilizada para o mal, homens cruéis brincando de deuses, os interesses obscuros da indústria farmacêutica, temas que, para quem se manteve lúcido e acordado nos últimos dois anos, não poderiam ser mais atuais.

Não considero que seja coincidência que o personagem vivido por Campbell Scott, Lewis Dodgson, que, no início do filme original de 1993, contrata Nedry para roubar embriões de dinossauros, seja fisicamente muito parecido com Bill Gates, até no aspecto gestual, uma simbologia nada sutil na trama, já que ele, agora presidente da empresa de engenharia genética BioSyn, vendido publicamente na imprensa como um benfeitor, atua nos bastidores em planos que envolvem, entre outras monstruosidades, a imposição artificial do caos objetivando a fome mundial.

Colin Trevorrow entrega com folga o melhor filme desta nova trilogia, presenteando os fãs antigos ao respeitar o trio de personagens responsável pela existência da franquia, o motivo que vai levar boa parte do público às salas de cinema: Sam Neill, Laura Dern e Jeff Goldblum. Há gracejos com cenas icônicas, delicadas homenagens, mas, acima de tudo, a nostalgia é tratada com carinho, apesar da trama não se permitir momentos de catarse emocional.

O ritmo é frenético, a história consegue reunir com dinamismo os dois núcleos, “Jurassic World” e “Jurassic Park”, desenvolvendo bem as ideias plantadas nos dois projetos anteriores, com a majestosa trilha sonora de Michael Giacchino, prestando reverência frequente aos temas inesquecíveis de John Williams, agregando peso épico ao empreendimento.

Divertimento garantido, principalmente para quem gosta de enxergar a arte além da superfície.

Cotação:

  • A obra acaba de estrear nas salas de cinema, mas, caso a sua ainda esteja exigindo, não avalize a grotesca segregação pelo “passaporte sanitário”. Aguarde, em muitas cidades já acabou esta palhaçada vergonhosa. No jogo da vida, escolha sempre ser o judeu, nunca o nazista.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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