Críticas

“Shaft”, de Gordon Parks, com RICHARD ROUNDTREE

Shaft (1971)

Ao ser contratado por um chefão da máfia do Harlem para localizar sua filha adolescente sequestrada, o detetive John Shaft (Richard Roundtree) acaba se metendo no meio de uma guerra entre gangues de traficantes rivais.

Os negros nas primeiras décadas do cinema (e no teatro, desde muito antes, como nos minstrels shows) eram brancos pintados de preto, uma caricatura ofensiva que variava entre selvagens canibais africanos e criados submissos.

Na década de 60, com o Movimento de Direitos Civis (e boicotes organizados por entidades como a NAACP, a Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor), reduziu-se bastante o problema. Obviamente que o revide artístico viria eventualmente (ainda que já houvesse o guerreiro solitário Oscar Micheaux em décadas anteriores, pioneiro muito pouco lembrado), com o que ficou sendo chamado de “Blaxploitation”.

Fenômeno que continua exercendo influência e inspirando homenagens, como as conduzidas por Quentin Tarantino (o diretor insinuou em entrevistas, que seus personagens em “Django Livre”: Django e Broomhilda Von Shaft seriam antepassados do personagem “Shaft”), com trilhas sonoras regadas por muito funk/soul/jazz e devolvendo aos brancos na mesma moeda, colocando-os quase sempre como personagens caricaturalmente ofensivos.

Melvin Van Peebles buscou durante um tempo ligar o sucesso de “Shaft” ao seu trabalho, dizendo que se tratava de um típico filme de ação policial com um protagonista branco, mas que devido ao seu filme, teria sido modificado ainda na pré-produção, numa tentativa de capitalizar nesta nova tendência que havia se provado lucrativa.

A realidade é que o filme do diretor Gordon Parks já havia escalado seu protagonista, Richard Roundtree, antes mesmo da estreia de “Sweet Sweetback’s…”. A bilheteria generosa salvou a MGM da falência, além de dar o pontapé inicial na produção de vários outros similares. O roteiro berra atitude desde os primeiros segundos.

Emoldurado pela excelente trilha sonora de Isaac Hayes (que queria protagonizar), acompanhamos os passos confiantes do detetive John Shaft pelas ruas de Nova York. A letra da canção é espirituosa, objetiva e nada glamourosa (“ele é um tremendo filho da… – *voz feminina* cale a boca! – mas eu estou falando do Shaft – *voz feminina* então está limpo”), praticamente a antítese das canções nos filmes de James Bond.

Ficava clara em várias cenas a manipulação de diálogos, que enfatizavam a diferença entre os detetives brancos que Hollywood já havia nos apresentado e esta força da natureza, disposta a xingar qualquer um que o encarasse com arrogância.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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