Irmão, Irmã (Ani Imôto – 1953)
A família camponesa dos Akaza passa por uma grave crise, quando Mon (Machiko Kyō), a filha mais velha, volta grávida de Tóquio, onde trabalhava. É o início de uma série de conflitos.
Quando se celebra a era de ouro do cinema japonês, normalmente são aplaudidos nomes como Akira Kurosawa, Yasujiro Ozu e Kenji Mizoguchi, mas há um mestre no período que merece ser redescoberto, o grande Mikio Naruse.
O seu conjunto de obra impressiona pela quantidade e pela coerência temática, a segurança com que ele controlava o ritmo, trabalhando situações emocionalmente complexas em sequências aparentemente tranquilas, prova sua habilidade em compreender os dilemas mais profundos da natureza humana.
Naruse foi o responsável por um dos primeiros filmes japoneses exibidos no Ocidente, o bom “Esposa! Seja como uma Rosa!” (1935), destaco também pérolas como “Nuvens Flutuantes” (1955), “O Som da Montanha” (1954), “Relâmpago” (1952) e “Quando a Mulher Sobre a Escada” (1960), mas decidi resgatar neste texto um título menos lembrado, até mesmo entre os fãs mais dedicados do diretor, o sensível “Irmão, Irmã”, adaptação do excelente conto homônimo de Saisei Murô, vale destacar, inserido na ótima antologia “Modern Japanese Short Stories“, de Ivan Morris.
O roteiro acerta ao iniciar dedicando maior atenção às consequências negativas da reputação social da jovem Mon na rotina da sua doce irmã San (Yoshiko Kuga), personagem que aparece pouco no conto original, mas que é fundamental nesta adaptação.
O irmão mais velho, Ino (Masayuki Mori), um grosseirão preguiçoso que projeta suas frustrações com mulheres no ódio que sente por Mon, que ele enxerga como uma frívola desonrada, apresentado literalmente fugindo do pai (Reysaburô Yamamoto) na rua, não passa de uma figura patética que humilha constantemente seu alvo.
Ele conduz a trama para seu momento mais impactante, no conto e no filme, o enraivecido confronto entre Mon e Ino, após a revelação de que ele perseguiu e agrediu o rapaz (Eiji Funakoshi) que a engravidou e a abandonou, cena em que ela, demonstrando incrível força de caráter, evidencia a covardia de punir alguém mais fraco e que desejava o perdão, além de jogar na cara dele a hipocrisia, já que o irmão era reconhecido na região por tratar mulheres como objetos descartáveis.
O lindo desfecho, com as duas irmãs caminhando juntas na estrada de terra, vistas à distância pelos pais, muito superior à conclusão literária, potencializa a mensagem. Mon sabe que Ino se revolta porque enxerga nela o seu reflexo no espelho, e que, mesmo sendo extremamente rude e agressivo, ainda há amor, preocupação.
Nesta conversa aparentemente simples no caminho para o ponto de ônibus, Mon se mostra ao público como sendo superior em todos os aspectos, corajosa até para assumir seus erros e perdoar.
Um tesouro do cinema japonês que merece ser redescoberto.
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